1. Não acredito que os amigos de ninguém gostariam de receber por whatsapp uma foto do indivíduo pelado/a;
2. Como uma pessoa que estuda mudança de comportamento alimentar, eu percebo que mudanças duradouras não surgem por meio da coerção, da culpa e da humilhação, e sim por meio do respeito por si próprio e da autocompaixão.
Tendo isso em vista, segue abaixo email que uma paciente
mandou a uma pessoa de sua família, pedindo que esta parasse de julgá-la e estigmatizá-la
por ser gorda (esse email é verídico e fui autorizada pela paciente a
postá-lo):
Você disse que
precisava falar.
Pois bem, eu também
preciso.
Compreenda que não
é a primeira vez que você me diz que estou gorda e preciso emagrecer. Você
me diz isso todas as vezes que nos encontramos.
Compreenda que não
preciso disso. Tenho espelho, revistas, informações, médicos e tabelas de IMC
que me dizem o mesmo a todo momento. Eu não recuso sua contribuição, ela
só é redundante.
E compreenda
também, que dizer isso não vai me deixar mais magra. Vai me deixar mais triste.
Vai me fazer pensar mil vezes no que vestir para iludir minimamente você
(e toda essa família que sempre olhou meus quadris antes de olhar meu
olhos e perguntar como estou). No caso do resto da família, com quem minha
relação é menos profunda do que com você, me faz, inclusive, evitar
ao máximo esses encontros.
Hoje estou
frequentando uma nutricionista, e meu objetivo com isso é melhorar a minha
relação com a comida e com o meu corpo. Não com a balança.
Talvez não
precisasse fazer isso se não tivesse crescido achando meu corpo errado, ruim
e imperfeito. Mesmo quando, olhando retrospectivamente, não era.
Talvez não
precisasse se tivesse aprendido a saborear uma mousse de chocolate de vez em
quando, ao invés de devorá-la com culpa, raiva e uma certa sensação de
vingança.
Talvez não
precisasse disso se trinta anos fazendo dietas que obviamente não
funcionam a longo prazo não as tivesse deixado cada vez mais difíceis de
seguir.
Talvez não
precisasse disso se o núcleo familiar em que cresci não estivesse sempre
tão preocupado com aparências, em todos os sentidos, e muito mais com isso
do que com saúde.
Não sei se seria
mais magra ou mais gorda, mas certamente me seria mais fácil ir à praia, coisa
que eu amo tanto e quase não faço, por me sentir completamente
inadequada.
Você falou como
profissional. Então, à profissional. Empatia funciona melhor que julgamento.
Sei que você tem e exerce.
Boa semana a todos!
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