quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Aplicativos de smartphone que podem ajudar no autocuidado

Aproveitando a ociosidade das férias, decidi buscar em meu IPhone alguns aplicativos interessantes (e gratuitos!) que pudessem favorecer o autocuidado e promover ideias saudáveis. Infelizmente, todos os que eu encontrei são em inglês.

1.“Awesome Eats”

É um jogo infantil em que se tem que completar várias missões específicas usando frutas e legumes. Interessante para as crianças se familiarizarem com os diferentes tipos de vegetais e ao mesmo tempo se divertirem e trabalharem agilidade e raciocínio. Traz também dicas gerais de alimentação saudável. Adultos, cuidado: pode ser altamente viciante! (eu mesma fiquei uns vinte minutos jogando!)

2. “RR” (Recovery Record)

Aplicativo desenvolvido inicialmente para pacientes com transtornos alimentares, em parceria com a Universidade de Stanford. Permite que o usuário registre sua alimentação (funcionando como um diário alimentar, onde a pessoa anota o que comeu, o que sentiu e pensou, metas sugeridas pela sua equipe de tratamento), tenha acesso a táticas/frases de enfrentamento (o chamado coping) e troque mensagens de apoio com outros usuários.

3. “Eat, Drink & Be Mindful”

Semelhante ao aplicativo anterior, pode ser usado por pessoas que não tenham transtorno alimentar. Incentiva a prática do mindful eating (veja mais aqui).

4. “Vegman”

Aplicativo que conta com auxílio do GPS para encontrar restaurantes vegetarianos e vegans em diversas localidades do mundo. Interessante para quem quer conhecer novas opções gostosas para comer fora (perto de casa, do serviço...).

5. “101 Revolutionary Ways to Be Healthy”

Traz 101 sugestões sobre como ser saudável. O legal é que as sugestões fogem do básico (“coma mais frutas”) e trazem mensagens inclusive sobre auto-aceitação e foco nas mudanças de estilo de vida, e não no peso corporal em si.

6. “The Now”

Em intervalos aleatórios, o aplicativo envia mensagens positivas sobre como aproveitar melhor o momento presente. Ideal para quem precisa quebrar a rotina por alguns segundos durante o dia e desestressar.

7. “Mindfulness Meditation”

Usando os princípios do mindfulness (veja mais aqui), traz gravações em áudio de meditações guiadas com diferentes durações, bem como técnicas de relaxamento. Este é o único da lista que não é gratuito (mas se não me engano custa menos de 3 dólares).

Aproveitando que este é meu último post do ano, deixo o link de uma postagem antiga (mas muito válida ainda!) sobre como aproveitar as festas

Até ano que vem!

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Ritalina não melhora cognição em pessoas saudáveis


Já fez um tempo que venho me assustando com o uso crescente e indiscriminado do metilfenidato (nome comercial: ritalina) por pessoas saudáveis que buscam uma melhora na concentração/cognição, incluindo estudantes e profissionais de saúde. Felizmente, um estudo recente da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) divulgado no jornal Estado de São Paulo encontrou que a substância não traz benefícios a pessoas saudáveis.

Jovens saudáveis entre 18 e 30 anos foram divididos em quatro grupos: um tomou placebo e os outros três tomaram diferentes doses da droga (10, 20 ou 40mg). Os participantes foram então submetidos a diferentes testes que avaliaram grau de atenção, memória e funções executivas (funções como raciocínio, lógica, tomada de decisões). Resultado: o desempenho dos grupos foi semelhante, desbancando a hipótese então de que a ritalina poderia ajudar a "turbinar o cérebro".

Importante ressaltar que o metilfenidato pertence à classe das anfetaminas, assim como os inibidores de apetite recentemente proibidos pela Anvisa (anfepramona, femproporex, mazindol), e seu uso é indicado em casos de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). A substância possui diversos efeitos colaterais (aumento do risco de convulsão, suor, calafrios, prejuízo de julgamento, irritabilidade) e pode provocar dependência, portanto seu uso deve ser muito bem avaliado por um médico.

Quer estudar e trabalhar melhor? Organize-se para ter uma boa noite de sono; alimente-se e hidrate-se bem; faça atividade física e garanta um tempo de lazer. Ainda mais agora com as festas de fim de ano chegando!

sábado, 8 de dezembro de 2012

Mensagens negativas relacionadas ao chocolate podem aumentar seu consumo


Sabemos que muitas pessoas apresentam uma relação de “amor e ódio” com alguns alimentos, e um deles é o chocolate. Ao mesmo que tempo que se deseja, se tenta evitar a qualquer custo, gerando muitas vezes um ciclo de auto-indulgência seguido por culpa. Um novo artigo publicado na revista científica Appetite demonstrou as influências da mídia nos desejos de mulheres por comer chocolate.

As voluntárias da pesquisa (80 mulheres entre 17 e 26 anos, divididas em dois grupos: as que faziam dieta e as que não faziam) foram expostas a propagandas de chocolate com modelos magras ou com excesso de peso e com mensagens positivas ou negativas sobre comer chocolate (do tipo: “coma chocolate, é uma delícia!” ou “chocolate é rico em gordura, não exagere!”). Ao final do experimento, todas tiveram a oportunidade de comer esse alimento (e este consumo foi monitorado pelos pesquisadores).

Observou-se que as mulheres que viram as propagandas com modelos magras apresentaram mais desejo por chocolate, especialmente aquelas que faziam dieta. E tem mais: estas comeram mais e apresentaram mais culpa do que as demais. Além disso, as propagandas com mensagens negativas sobre chocolate aumentaram o desejo por seu consumo.

Trocando em miúdos, o que tudo isso significa?

Um dos pontos que os autores chamaram atenção é que ver constantemente imagens na mídia de modelos magras pode aumentar a ansiedade e a insatisfação corporal de muitas pessoas, o que por usa vez pode levar a um descontrole alimentar ou a um maior desejo por um alimento que seja gostoso e confortante. Por mais paradoxal que possa parecer, isso acontece muitas vezes, em especial entre indivíduos que fazem dieta. Com isso, come-se mais e sente-se mais culpa, reforçando a crença de que “já que eu não consigo me controlar devo mesmo parar de comer esse alimento!”. Ou seja: restrição levando ao exagero, muitas vezes à compulsão.

Em relação às mensagens, já é bastante divulgado o efeitos de orientações muito prescritivas ou proibitivas sobre o consumo alimentar. Quando as participantes leram nas propagandas que o chocolate “é perigoso” e “deve ser evitado”, a reação natural foi uma espécie de “rebelião”, levando a um aumento do desejo por consumi-lo. Já diz o ditado popular: “o que é proibido é mais gostoso”...

Ahh, se apenas nos permitíssemos comer quando realmente estamos com vontade e apreciar o momento, ao invés de já sentir a culpa no momento da primeira mordida...

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Profissionais de saúde apresentam alto grau de estigma contra obesos


Eu já abordei no blog os malefícios e a forte presença em nossa sociedade do estigma contra a obesidade e os indivíduos obesos (aqui e aqui), representado de forma clara na figura acima. Mas achei interessante retomar o tema por conta dos resultados alarmantes de um recente estudo britânico.

A pesquisa avaliou 1130 estudantes das áreas de enfermagem, medicina e nutrição por meio de dois questionários, o Fat Phobia Scale (F-scale) e o Beliefs About Obese People Scale (BOAP). Segundo o estudo, apenas 1,4% dos participantes expressaram atitudes neutras ou positivas para com indivíduos obesos e 10,5% deles apresentaram altos níveis de estigma. Os indivíduos com menor grau de estigma foram os estudantes de enfermagem e os fatores preditores de menor estigma foram maior IMC (por parte dos alunos) e maior compreensão de que a obesidade não está sob o controle do indivíduo, ou seja, entender que a pessoa não é obesa “porque quer”.

Esses resultados são muito sérios. Como é que os profissionais conseguirão tratar de forma adequada e eficaz seus pacientes obesos se acreditam fortemente que eles são “preguiçosos”, “fracos” e “auto indulgentes”, por exemplo? Estudos prévios já verificaram também que os profissionais tendem a ficar menos tempo em consulta com seus pacientes obesos, e estes têm menor acesso a cuidados de medicina preventiva.

Será que estamos mesmo preparados para enfrentar a “epidemia da obesidade” ou será que estamos contribuindo negativamente com a saúde e o bem-estar dos indivíduos com excesso de peso?

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Mindful eating melhora o controle do diabetes!


Em homenagem ao Dia Mundial do Diabetes, comemorado nesta última quarta-feira, gostaria de compartilhar os resultados de um estudo interessantíssimo que verificou a eficácia de uma intervenção nutricional focada em mindful eating no controle do diabetes tipo 2.

Mindful eating, que poderia ser traduzido por “comer consciente”, é uma filosofia que eu particularmente adoto com meus pacientes e que defende que devemos respeitar os sinais internos de nosso corpo (fome, saciedade, apetite) para decidirmos o que, quando e quanto comer. Para saber mais, leia o excelente texto escrito pela minha colega Fernanda Timerman no blog do GENTA.

O estudo dividiu 52 adultos diabéticos tipo 2 com pelo menos um ano de doença em dois grupos, que receberam intervenções semanais durante três meses: mindful eating e smart choices (“escolhas inteligentes”). No primeiro, não houve metas nutricionais específicas; os participantes aprenderam técnicas de meditação mindful para auxiliar no momento da decisão e escolha alimentar; aprenderam a identificar os sinais de fome e saciedade e a comer de acordo com eles, bem como identificar a presença de “fome emocional”.

Já no segundo grupo, os diabéticos receberam orientações nutricionais tradicionais, como por exemplo quais são os diferentes tipos de carboidrato, sua influência no controle glicêmico, quanto posso comer, como ler um rótulo, o que comer fora de casa, etc.

Os resultados mostraram que houve redução significante de peso, hemoglobina glicada e ingestão alimentar em ambos os grupos, sem diferença entre eles. Importante ressaltar que a prática de atividade física e uso de medicação também foram semelhantes entre os participantes.

Ou seja: as técnicas de mindful eating se mostraram tão eficazes quanto a educação nutricional tradicional para o controle metabólico de pacientes diabéticos tipo 2.

Bom saber que estou fazendo um bom trabalho!

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Brinquemos!

Final de semana prolongado, crianças em casa... O que fazer? Brinque com elas! Um estudo recente publicado no prestigiado JAMA (Journal of the American Medical Association) avaliou o efeito de um programa de treinamento aeróbico na glicemia de jejum, resistência à insulina e adiposidade geral e visceral de crianças com excesso de peso (sendo que 30% delas já apresentavam pré-diabetes).

Foram selecionados seis grupos de 30 a 40 crianças entre 7 e 11 anos de idade no período de 2003 a 23006. Dois grupos se tornaram controle e quatro grupos passaram pelo tal treinamento aeróbico, que consistia em 20 ou 40 minutos de brincadeiras: pular corda, jogos de corrida, futebol e basquete. As atividades físicas ocorreram todos os dias após a escola por 15 semanas. O grupo controle e seus familiares foram instruídos a manterem suas atividades usuais e todas as famílias passaram por palestras educativas mensais que abordavam assuntos como alimentação saudável e manejo do estresse.

Os resultados mostraram que houve redução em todos os parâmetros avaliados nos grupos que realizaram atividade física, independentemente de gênero e raça. O mais interessante é que a taxa de retenção do estudo foi de 94%, ou seja, as crianças de fato aderiram à prática regular de atividade física.

Talvez porque fosse divertido, e não algo focado puramente na perda de peso. Os pesquisadores deixaram bem claro no estudo que a ênfase dada era na diversão e segurança durante as atividades, e não na melhora de habilidades e competição.

Portanto, a mensagem do feriado é a seguinte: brinquemos todos! É bom para saúde e para o vínculo familiar!

sábado, 27 de outubro de 2012

A guerra contra as fast foods. Reloaded.


Fast food é lixo. Tem um monte de ingredientes estranhos, é cheia de calorias, açúcar e sal e normalmente faz você se sentir mal”. Esse manifesto, bem como a imagem acima (“Coma fast food e morra cedo”), fazem parte de um campanha americana que tem sido amplamente divulgada lá fora chamada Stick It to Fast Food, cujo “simpático” logo é um garfo simbolizando uma mão mostrando o dedo do meio. Já ganhou pontos negativos na minha avaliação só pela grosseria e pelo mau gosto. Como muitos bem sabem, a logomarca representa a essência da mensagem que se quer transmitir com o produto/campanha em questão, e não gosto de nada que vulgariza e negativiza a comida. Mesmo se for uma fast food.

Alguns pontos em defesa da campanha: sim, devemos reduzir o consumo das chamadas comidas rápidas, pois em sua grande maioria elas têm quantidades consideravelmente altas de gorduras, açúcar e sal, que em excesso prejudicam a saúde; sim, devemos prestar mais atenção àquilo que estamos comendo, saber um pouco mais sobre a composição dos alimentos e perceber como de fato nos sentimos quando comemos (não sei vocês, mas eu realmente me sinto um pouco estufada e incomodada fisicamente quando como um Big Mac); sim, devemos nos esforçar para aprender a cozinhar algumas comidas deliciosas e que sejam feitas com ingredientes naturais.

Mas não, não podemos contribuir com a categorização da comida em “saudável” e “não saudável”, pois o que determina uma alimentação saudável é a frequência de consumo dos alimentos, a circunstância, a quantidade e o estilo de vida de cada pessoa. Não podemos contribuir ainda mais com a estigmatização da comida, porque sabemos que isso faz com que as pessoas desenvolvam uma relação ainda mais conturbada com a alimentação. Não podemos assumir que é possível excluir completamente as fast foods do tipo de vida que levamos hoje, pois isso é praticamente impossível e geraria ansiedade e culpa em quem escolhesse comer um Big Mac no final de semana porque sentiu vontade.

Por isso, pode pensar duas vezes antes de comer um Big Mac, se quiser. Mas não morra de culpa se por um acaso decidir comê-lo.

sábado, 20 de outubro de 2012

Que vergonha, Marisa.

Ontem assisti ao vídeo da nova campanha das lojas Marisa, que está sendo transmitido na televisão e que pode ser visto aqui. Foram os 30 segundos mais arrepiantes dos últimos tempos.

O vídeo mostra uma mulher agradecendo “às baby cenouras, às sopas ralas e à chia” por ter conquistado o “corpo do verão”. Mostra ainda cupcakes com caras tristonhas, já que aparentemente a moça deixou de comê-los. Ao final, ela aparece desfilando na beira de uma piscina ensolarada (afinal, só as “magras” podem se dar ao luxo de fazer isso!) e ao fundo belos moços a estão admirando. O final é feliz: ela tem um corpo novo, um biquini novo e novos admiradores.

Como mulher e nutricionista, eu me incomodei. Esse comercial é uma afronta ao árduo trabalho feito por profissionais que lidam diariamente com transtornos alimentares, que são as doenças psiquiátricas que mais matam. É uma afronta a todas as pessoas (homens e mulheres) que já sofrem na pele a angústia de viver num mundo obcecado por magreza e onde as opções alimentares estão cada vez mais amplas, por sinal.

São inúmeros os estudos que mostram que a exposição a este tipo de mídia contribui com a internalização do ideal de magreza, aumento da insatisfação corporal e desenvolvimento de atitudes alimentares transtornadas, ou mesmo transtornos alimentares propriamente ditos.

Digo mais: é um vídeo perigoso, pois transmite a falsa ideia de que para emagrecer o indivíduo precisa se limitar a cenouras, chia, sopas... E que numa alimentação saudável não cabe um delicioso cupcake.

Faço um apelo para que assinem esta petição online para que a veiculação dessa peça de mídia seja descontinuada. E pra finalizar: além de irresponsáveis, os criadores dessa campanha estão fazendo um desfavor à marca. Ou eles acham que aquela garota gordinha vai se sentir bem o suficiente para comprar um biquíni deles?

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Qual o real papel de um nutricionista numa equipe de cirurgia bariátrica?

Aproveitando a notícia de que em breve o SUS passará a cobrir cirurgias bariátricas para adolescentes a partir de 16 anos (o que na minha opinião é um grande equívoco, mas isso é assunto para um outro post!), decidi escrever hoje sobre qual o real papel de um nutricionista numa equipe de cirurgia bariátrica.

Muita gente (inclusive cirurgiões e pacientes candidatos ao procedimento) enxerga o nutricionista somente como o profissional que vai fazer uma avaliação pré-cirúrgica para entregar um laudo, necessário muitas vezes para que os convênios aprovem a cirurgia. Quando muito, entende-se que o nutricionista é necessário nos primeiros meses, para orientar o que se pode ou não comer para “não passar mal”. Depois disso, vai-se emagrecer mesmo por conta do procedimento, então esse profissional aparentemente não será mais necessário.

Certo? Errado.

Eu sempre digo aos meus pacientes bariátricos que não sou uma “emagrecedora”. Esse não é o título da minha profissão e não é isso que conduz minha linha de trabalho. Qual é então a real função do nutricionista no acompanhamento pré e pós-operatório da cirurgia bariátrica?

1. Conhecer a história de ganho de peso do indivíduo: no Consenso da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, coloca-se que o candidato à cirurgia deve ter feito pelo menos algum tratamento clínico prévio para obesidade, sem obter sucesso. Muitos pacientes que são avaliados (pelo menos na minha experiência) nem sequer fizeram acompanhamento com nutricionista antes, ou seja, nunca passaram por um processo de educação alimentar/mudança de comportamentos e hábitos. O que todos já tentaram foram medicamentos e dietas, e sabe-se que estas estão intimamente relacionadas a um maior ganho de peso a longo prazo. Ou seja: é essencial explicar aos pacientes os malefícios e as armadilhas das dietas e o processo de mudança de hábitos pelo qual ele terá que passar para garantir o sucesso da cirurgia.

2. Questionar e entender as motivações do paciente para fazer a cirurgia e avaliar suas expectativas de perda de peso: estudos recentes (veja aqui e aqui) verificaram expectativas muito irreais de perda de peso nos candidatos à cirurgia, o que pode aumentar a chance do paciente adotar comportamentos inadequados para continuar perdendo de peso após o procedimento e dificultar a adesão ao acompanhamento nutricional.

3. Avaliar a presença/desenvolvimento de atitudes alimentares inadequadas e transtornos alimentares: pacientes com compulsão alimentar ou transtorno da compulsão alimentar periódica previamente à cirurgia podem apresentar menor perda de peso a médio e longo prazo, maior psicopatologia e menor qualidade de vida. Além disso, apresentam maior risco de desenvolver compulsões alimentares “subjetivas”, como o grazing, que seriam beliscadas frequentes com sensação de perda de controle. Alguns pacientes, ainda, acabam desenvolvendo distúrbios de imagem corporal e atitudes alimentares inadequadas após à cirurgia, como medo intenso de voltar a comer normalmente, vômitos auto-induzidos para aumentar a perda de peso, sensação de culpa ao comer determinados alimentos e insatisfação corporal persistente apesar do emagrecimento. O nutricionista é capaz de trabalhar essas questões – juntamente com os outros profissionais da equipe – para evitar que culminem no desenvolvimento de um transtorno alimentar propriamente dito.

E isso é só o começo.

Feliz dia das crianças a todos!

sábado, 22 de setembro de 2012

Efeito nocebo: o que é isso?


Muita gente está familiarizada com o conceito de “efeito placebo”, isto é, um tipo de tratamento/intervenção que não possui validade científica alguma mas que acaba funcionando para algumas pessoas que acreditam nele.

Na área médica, o efeito placebo é uma evidência da forte conexão que existe entre a mente (aquilo que pensamos, acreditamos, sentimos) e os efeitos factuais sobre a saúde. Ou seja: se eu acredito fortemente que beber água com açúcar é um “calmante natural”, é provável que quando eu estiver nervosa e tomar essa combinação eu de fato me acalme (mesmo não havendo nenhum argumento científico que justifique isso!)

Por outro lado, pouco se conhece e se fala sobre o “efeito nocebo”, que seria justamente o contrário do placebo. Ou seja, o poder que nossas crenças, pensamentos e sentimentos têm de afetar negativamente a nossa saúde, mesmo que baseados em algo que não é um consenso científico.

Muitas vezes, apesar de bem intencionados, nós profissionais de saúde reforçamos algumas crenças em nossos pacientes que podem gerar um efeito nocebo. Por exemplo: quando dizemos aos pacientes que eles necessariamente precisam emagrecer para melhorarem sua saúde; quando reforçamos a ideia de que emagrecer de fato é uma coisa desejada e positiva, necessária para sentir-se bem consigo mesmo (talvez porque nós, como pessoas, ainda acreditemos nisso, e dessa forma acabando transferindo nossas crenças pessoais aos pacientes).

Será que não precisaríamos tentar entender o que está por trás de tudo isso, especialmente quando o paciente nos diz que precisa ou quer muito emagrecer? Será que não seria importante compreender o porquê da auto-estima de uma determinada pessoa depender tanto do peso, exclusivamente, a ponto de ela de fato acreditar que não pode se sentir bem consigo mesma a não ser que perca peso?

Quando trago à tona esse tipo de discussão, muitos dizem que sou a favor da obesidade. Não é isso. Eu não acredito que todo gordo é saudável. Mas acredito sim que todos podem buscar uma melhor saúde e levar uma vida saudável independentemente do peso que possuam. E nesse processo (que envolve mudar comportamentos, fazer as pazes com a comida, se auto-conhecer) pode-se ou não perder peso.

Essa é a diferença daquilo que de fato eu acredito.

sábado, 15 de setembro de 2012

Estigma contra obesos em campanhas de prevenção de obesidade


Já escrevi em outros posts sobre o estigma da obesidade e seus malefícios (veja aqui e aqui). Um novo estudo publicado no prestigiado “International Journal of Obesity” pediu que 1014 adultos avaliassem o conteúdo de diversas campanhas de prevenção de obesidade (dos EUA, Austrália e Reino Unido) e relatassem se elas de fato eram motivadoras ou se contribuíam para estigmatizar ainda mais a obesidade e os obesos.

Os participantes responderam mais favoravelmente a campanhas que estimulavam o consumo de frutas, verduras e legumes, a mensagens que estimulavam mudanças de hábitos de saúde de uma maneira geral e a mensagens que focavam em empowerment pessoal (ex: “você tem a força para controlar sua saúde", campanha "Alliance for a Healthier Generation").

Mensagens que deixavam implícito que a obesidade é de responsabilidade individual da pessoa e que culpavam indivíduos obesos por sua condição (ex: “quanto mais você ganha, mais você perde”, campanha “Measure Up”) foram avaliadas como negativas e pouco eficazes (ou seja, os participantes relataram que não seguiriam as orientações desse tipo de campanha). Outras mensagens avaliadas como estigmatizantes foram: “obesidade infantil é abuso infantil” (campanha “Obesity Prevention Australia”) e “ser gordo tira a diversão de ser criança” (campanha “Children’s Health Care of Atlanta”).

Este estudo é mais uma evidência sólida de que estigmatizar os obesos não vai fazer com que eles melhorem sua saúde e seu padrão de vida. Pelo contrário. Esse “terrorismo contra os obesos”, a ênfase que estamos dando no peso corporal por si só não está resolvendo a situação. Os índices de obesidade no mundo só crescem. As alternativas seriam: promover maior aceitação/satisfação corporal (quando a gente se gosta, a gente se cuida!) e incentivar hábitos saudáveis independentemente do peso.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

O “paradoxo da obesidade” no diabetes tipo 2

Estudos recentes não negam: em algumas doenças crônicas, como hipertensão, insuficiência renal e insuficiência cardíaca, indivíduos com sobrepeso ou mesmo obesidade exibem menores taxas de mortalidade do que indivíduos com peso considerado normal (veja posts antigos a esse respeito aqui e aqui). Convencionou-se chamar essa realidade de “paradoxo da obesidade” (“obesity paradox”).

Duas pesquisas, uma de 2007 (“Translating Research Into Action for Diabetes”, TRIAD) e outra de 2011 (“PROactive Trial”), avaliaram a hipótese do paradoxo da obesidade no diabetes tipo 2 (DM2). Os indivíduos com peso eutrófico (“normal”) no momento da avaliação inicial apresentaram maiores taxas de mortalidade do que os participantes com excesso de peso (sobrepeso ou obesidade). Entretanto, uma limitação de ambos os estudos é que a duração do diabetes era desconhecida, o que pode ter influenciado os resultados.

A fim de minimizar essa influência, uma pesquisa publicada em agosto no respeitado Journal of the American Medical Association (JAMA) comparou indivíduos com peso eutrófico e com excesso de peso no momento do diagnóstico de DM2. Detalhe: a porcentagem desses adultos que desenvolveram a doença mesmo com peso eutrófico chegou a 21%. Os resultados mostraram que aqueles com excesso de peso apresentaram taxas de mortalidade significantemente menores, corroborando portanto com o “paradoxo”. Importante: os achados estatísticos persistiram mesmo após o ajuste para fatores de risco de doenças cardiovasculares, uso de cigarro e status socioeconômico.

Diante de estudos como esse, eu me questiono: será que devemos mesmo insistir na perda de peso como estratégia única e exclusiva para o controle glicêmico dos pacientes com DM2? Ou será que devemos nos preocupar de forma mais concreta com as mudanças alimentares/de estilo de vida que são capazes de promover controle da glicemia, independentemente do emagrecimento?

sábado, 1 de setembro de 2012

Dia do nutricionista: reflexões


Ontem, dia 31 de agosto, foi o dia do nutricionista. Fiquei muito feliz com os parabéns recebidos por alguns colegas e pacientes queridos e fiz questão eu mesma de parabenizar alguns profissionais da área que fizeram (e fazem) toda a diferença na minha formação.

Ao mesmo tempo, confesso que pensei bastante na atuação da nossa classe profissional e fiquei um pouco preocupada com o rumo que estamos tomando. Por que será que a comida está sendo cada vez mais deixada de lado? Por que será que nos tornamos tão prescritivos? Como foi que nossa atuação se tornou tão focada em suplementos, cápsulas, gotas, tabletes? Por que estamos insistindo que as pessoas comam chia se elas não estão nem mais comendo arroz e feijão?

Levando em conta tudo isso, gostaria de aproveitar essa data tão oportuna para deixar algumas reflexões aos meus colegas de profissão (atenção: as reflexões abaixo não foram estraídas de nenhum livro ou artigo científico, representam meramente a minha opinião!)

1. Busque alternativas eficazes para promover mudanças de comportamentos duradouras em seus pacientes/clientes, e não apenas algo temporário que não seja viável de ser mantido a longo prazo.


2. Pense na aplicabilidade prática de suas orientações. Se nem você consegue seguir aquilo que propõe (exs: coma doce somente uma vez na semana; tire o glúten da sua vida), talvez seja necessário repensar alguns conceitos.

3. Busque sempre novas alternativas e avalie: será que aquilo que estou fazendo/prescrevendo está funcionando para a maioria dos meus pacientes?

4. Procure ler mais artigos científicos e aprenda a interpretá-los. Não baseie sua atuação com base nos achados de um único estudo.

5. Trate seus pacientes/clientes de forma humana e holística, levando em conta a saúde física e emocional do indivíduo.

6. Não se esqueça o principal motivo pelo qual as pessoas comem: o prazer.

Finalmente, parabéns àqueles que como eu amam a profissão de nutricionista e que procuram ajudar as pessoas a melhorarem sua qualidade de vida!

domingo, 26 de agosto de 2012

Prevenção de diabetes por meio de cirurgia?


Estudo recente publicado no “The New England Journal of Medicine” indica: a cirurgia bariátrica pode ser indicada num futuro breve a pacientes com excesso de peso para prevenção de diabetes tipo 2 (DM2).

A pesquisa, que acompanhou durante 15 anos 1.658 sujeitos que fizeram cirurgia bariátrica (banda gástrica ou gastroplastia vertical com banda ou bypass gástrico) e 1.771 sujeitos que foram tratados de forma convencional para perda de peso, mostrou que aqueles que passaram por algum dos procedimento cirúrgicos tiveram redução de cerca de 80% no risco de desenvolvimento de DM2, em comparação com o grupo controle.

Algumas questões que merecem ser levantadas:

1. Os critérios de inclusão para o procedimento cirúrgico no estudo eram: idade entre 37 e 60 anos e IMC ≥ 34kg/m² em homens e ≥ 38kg/m² em mulheres, mesmo sem comorbidades. Atualmente, a indicação formal para a cirurgia é para pacientes que apresentem IMC superior a 40gm/m² ou IMC ≥ 35kg/m² com alguma comorbidade. Ou seja: vários pacientes do estudo provavelmente fizeram a cirurgia sem de fato terem indicações para tal...

2. Em relação ao grupo controle, o “tratamento convencional” para perda de peso poderia incluir ou não a intervenção de algum profissional, ou seja, muitos pacientes (mais precisamente: 46%) sequer receberam ajuda especializada! Isso sem falar naqueles que passaram pelo conhecido “yo-yo dieting”, ou seja, perdiam e reganhavam peso intermitentemente, o que já se sabe que aumenta o risco de desenvolvimento de DM2...

Para os indivíduos do estudo que apresentavam pré-diabetes antes da cirurgia (glicemia de jejum ≥ 100mg/dL e < 126mg/dL) , o risco de desenvolvimento de diabetes diminuiu ainda mais, cerca de 90%. Entretanto, há de se considerar que a existência de pré-diabetes por si só não garante que o paciente desenvolverá DM2 em algum momento da vida! Este estudo, por exemplo, mostrou que num grupo de indivíduos com glicemia de jejum entre 100 e 109mg/dL, a incidência de DM2 foi de 1,34% ao ano (ao longo de 41 meses). Já num grupo de sujeitos com glicemia de jejum entre 110 e 125mg/dL, esta incidência foi de 5,56% ao ano (ao longo de 29 meses).

E tem mais: mesmo para obesos que já tenham DM2, as técnicas cirúrgicas que temos hoje não garantem a remissão completa da doença! Um estudo chegou a encontrar uma taxa de reincidência da doença de 21% em cinco anos (veja aqui).

Mas a pergunta essencial que martela em minha cabeça é a seguinte: para que expor um paciente a um procedimento cirúrgico para prevenir DM2 se ele nunca nem mesmo tentou mudar seu estilo de vida com a ajuda de profissionais confiáveis e gabaritados para tal?

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Obesos metabolicamente saudáveis: isto existe?


Uma das perguntas mais importantes da ciência médica atualmente é a seguinte: ser gordo aumenta de fato os riscos de problemas à saúde? E cada vez mais as pesquisas vêm chegando à seguinte conclusão: não necessariamente.

Por exemplo: um estudo fresquinho e muito bem conduzido, publicado no "The Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism", acompanhou durante sete anos um grupo de 22.203 indivíduos. Neste período, houve 604 mortes por doenças cardiovasculares (DCV) e 1.868 mortes por outras causas. Os resultados mostraram claramente: indivíduos obesos que não tinham alterações metabólicas (valores elevados de pressão arterial, proteína C reativa e circunferência de cintura; diagnóstico de diabetes e valores reduzidos de HDL) não apresentaram maior risco de morte por DCV ou outras doenças, em comparação com indivíduos não obesos e que também não apresentavam alterações metabólicas.


Sabe-se que existe uma relação considerável entre depósitos de gordura visceral (aquela que fica entra os órgãos, na cavidade abdominal) e hepática e o desenvolvimento de DCV. Uma hipótese razoável seria imaginar que esses indivíduos obesos do estudo acima, que não apresentavam risco cardiovascular (5,2% da amostra total de participantes), tinham níveis baixos desse tipo de gordura no corpo. Ou seja, concentravam mais gordura subcutânea.

Muitos podem dizer: "bom, tudo bem, mas é MUITO raro encontrar indivíduos obesos com esse perfil na prática!". E os estudos também mostram: nem tanto! Na pesquisa acima, por exemplo, os indivíduos obesos sem alterações metabólicas representavam 22% do total de obesos acompanhados. Outros estudos (veja aqui e aqui) que analisaram amostragens expressivas de indivíduos obesos mostram porcentagens similares.

O que diferenciaria então os obesos saudáveis dos obesos com risco aumentado para o desenvolvimento de doenças? Os fatores mais apontados pelos estudos seriam aqueles relacionados ao estilo de vida: qualidade/horas de sono, alimentação, prática de exercícios físicos, fatores emocionais e psicossociais, dentre outros.

E você, já pensou hoje sobre a maneira como está levando sua vida?

domingo, 5 de agosto de 2012

O que podemos aprender com os atletas olímpicos


Nesta última semana, tive o privilégio de acompanhar diversas competições dos Jogos Olímpicos de 2012*, nos mais diferentes esportes.

O que mais me chamou atenção foi a constante superação humana ilustrada pelos atletas: um biamputado competindo com atletas "normais"; um nadador que em sua história olímpica conquistou mais medalhas que diversos países da América Latina juntos; uma nadadora chamada de "gorda" pela imprensa, mas que ainda assim classificou-se com o quinto melhor tempo do mundo na prova em que competiu. Estamos vivendo numa época de mitos e grandes exemplos.

Mas a lição mais importante que os Jogos Olímpicos vão deixar, na minha opinião, é a vibração e o prazer dos atletas em levarem seus corpos ao extremo, provando que tudo é possível e que o esporte é para todos.

Portanto, ao invés de sucumbir de vez ao sedentarismo neste restinho de Olimpíadas, assistindo às competições sentado no sofá, inspire-se nos altetas e escolha uma atividade física que te pareça agradável, que te traga bem-estar. Teste seus próprios limites e sinta no corpo o prazer de se movimentar, descobrindo que ele pode ser muito mais do que um mero gerador de insatisfação.

*Aos que não estão conseguindo acompanhar as competições, sugiro o blog do meu querido amigo Guilherme Costa, jornalista esportivo da Record que está em Londres cobrindo as Olimpíadas: http://brasilemlondres2012.blogspot.com

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Apenas metade dos pacientes cardíacos adere às medicações de uso crônico

Uma nova pesquisa americana divulgada no "American Journal of Medicine", que acompanhou 275.000 pacientes com risco cardíaco e 101.000 pacientes que já apresentavam alguma patologia cardíaca, traz dados preocupantes:

- apenas 57% dos indivíduos continuam tomando medicações de uso crônico (exs: estatinas, antihipertensivos, aspirina) após um ano;
- um terço dos pacientes que já sofreram um ataque cardíaco abandona o uso da medicação com o tempo.

Os autores do estudo sugerem que a não aderência medicamentosa poderia estar relacionada a um receio dos efeitos colaterais das medicações, ao abandono do acompanhamento médico e a um desconhecimento por parte dos pacientes dos mecanismos de ação específicos de cada droga.

Pois vejam só: se é tão difícil manter a aderência a uma medicação (que teoricamente é uma coisa simples, o indivíduo só precisa tomar o comprimido!), que dirá aderir a mudanças comportamentais na alimentação...

quinta-feira, 26 de julho de 2012

"O noivo é a nova noiva"


O título refere-se a uma colocação feita pela americana Penny Glazier ao jornal "The New York Times", referindo-se ao fato de que agora os noivos também estão sofrendo em busca de um ideal esbelto para entrar na passarela - opa, desculpem-me, no altar.

As técnicas danosas (tanto física quanto psiquicamente) às quais as noivas se submetem antes do casamento para emagrecerem e estarem "perfeitas" no grande dia já foram abordadas neste post. O alvo da vez agora é o noivo. A reportagem do jornal americano mostra que os futuros esposos estão se engajando mais ativamente em dietas extremas e procedimentos cirúrgicos e estéticos para "saírem bem nas fotos". Alguns salões de beleza nos EUA já oferecem inclusive o "dia do noivo", que pelo visto não demora a chegar no Brasil.

Mais preocupante ainda é o dado da reportagem de que alguns casais já estão inclusive "competindo" sobre quem conquista os "melhores resultados", ou seja, quem emagrece mais, quem está se cuidando mais, criando um foco adicional de tensão (desnecessário, na minha opinião) antes da cerimônia.

Pode ser um questionamento filosófico da minha parte, mas é impressão minha ou o casamento está se tornando mais um "show", um momento voltado para os outros e não para o próprio casal? Para mim, o casamento deveria representar a aproximação íntima de duas pessoas que se gostam do jeito que são, e não o afastamento mútuo e a busca por aquilo que o outro não é...

sábado, 21 de julho de 2012

Agência americana aprova nova droga para perda de peso

A FDA (agência americana que equivale à Anvisa aqui no Brasil) aprovou esta semana uma nova droga para emagrecimento, chamada "Qsymia".

O medicamento, que ainda não chegou ao Brasil (e nem há previsão, até onde eu sei), é uma combinação de dois princípios ativos: topiramato - um anticonvulsivante, bastante usado na psiquiatria em casos de bulimia nervosa, por exemplo - e fentermina - um estimulante da classe das anfetaminas, que inibe a fome.

Apesar de resultados promissores nos estudos, a droga (como qualquer outra) apresenta efeitos colaterais consideráveis. Em 2010, a FDA rejeitou-a por conta do risco de problemas cardiovasculares sérios e alterações cognitivas (perda de memória, dificuldade de concentração).

Outro risco, inerente também a qualquer medicação para perda de peso, é o reganho de peso após a interrupção do uso do medicamento. Sem mudança de hábitos, não há remédio no mundo que resolva.

Vamos tomar cuidado para essa droga não ser divulgada e promovida como mais um "milagre" para perda de peso. É preciso avaliar muito bem quem de fato terá indicações para usar esse medicamento, pesando riscos e benefícios.

sábado, 14 de julho de 2012

Os mitos da satisfação corporal


Quando se fala em melhorar a satisfação corporal, os pacientes logo se assustam: "Como assim? Me gostar? Isso é impossível! Se você tivesse meu tamanho aposto que também estaria insatisfeita!" ou "Imagina, se eu me gostar desse jeito daí é que não vou mudar mesmo, não vou emagrecer nunca!".

Na minha opinião, essas duas visões estão equivocadas. É possível SIM se gostar (ou pelo menos se respeitar) em qualquer tamanho. Assumir uma postura positiva e menos crítica em relação a seu próprio corpo é uma atitude corajosa, mas que depende somente de VOCÊ. Digo "corajosa" porque a sociedade inteira vai tentar te convencer do contrário, ou seja, de que de fato existe algo de errado/imperfeito no seu corpo: as revistas, e/ou seu namorado(a), e/ou seus pais, e/ou seus amigos, e/ou seus inimigos, e/ou os programas de televisão, e/ou seus colegas de trabalho, e/ou aquela sua vizinha que emagreceu de repente com a última dieta da moda, e/ou seus médicos/nutricionistas/professores de academia... Estar insatisfeito é uma condição humana, e essa insatisfação atualmente acaba sendo muito transferida para o corpo.

Em relação ao segundo ponto ("se eu me gostar não vou mudar mesmo, não vou emagrecer nunca"), nenhum estudo até hoje conseguiu provar que maior insatisfação corporal promove maior perda de peso. Pelo contrário! Um exemplo é este estudo fresquinho publicado na revista científica International Journal of Obesity: 1559 garotas com excesso de peso foram acompanhadas por 11 anos, e percebeu-se que aquelas que estavam mais satisfeitas com seus corpos apresentaram elevações menores no IMC e chance 61% menor de terem episódios frequentes de compulsão alimentar.

Se pensarmos bem, esse e outros estudos que mostram resultados semelhantes fazem todo o sentido. Se você respeita/gosta do seu corpo, será muito mais fácil fazer algo positivo por ele, como melhorar sua alimentação, fazer algum tipo de exercício que te traga prazer, comprar roupas mais bonitas e confortáveis...

Como diz a música: "quando a gente gosta, é claro que a gente cuida..."

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Abuso durante a infância aumenta risco de obesidade na idade adulta

Um estudo que será publicado na edição de agosto da renomada revista científica "Pediatrics" encontrou que a exposição a situações de abuso durante a infância (tanto físico quanto sexual) aumenta o risco de obesidade na idade adulta.

O estudo longitudinal americano acompanhou 33.298 mulheres negras e percebeu que o maior risco persistia mesmo ajustando fatores como estado civil, peso ao nascer, exposição à televisão, uso de álcool, menopausa, prática de atividade física, presença de depressão, status socioeconômico. Em casos de abuso severo, o risco de obesidade chegou a ser 29% maior do que na população que não sofreu qualquer tipo de abuso.

As hipóteses para um risco tão aumentado seriam: uso de comida como forma de lidar com os sentimentos negativos gerados pelo abuso; influências negativas na saúde mental, que levariam a comportamentos sedentários; alterações nos níveis de cortisol, estimulando deposição de gordura abdominal.

Os autores reforçam que esforços para previnir abusos na infância vão além da questão social, já que agora foi encontrada mais uma evidência de que a prevenção deve ser questão de saúde (como se antes já não fosse...)

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Cirurgia bariátrica aumenta risco de abuso de álcool

Um estudo prospectivo fresquinho, publicado no JAMA por epidemiologistas da Universidade de Pittsburgh, EUA, verificou que a prevalência de alcoolismo aumentou de 7,6% para 9,6% após a cirurgia bariátrica. O estudo acompanhou 1.945 pacientes de 10 centros hospitalares distintos durante o primeiro ano pós-cirúrgico.

Outro achado relevante é que aqueles que passaram pela técnica do bypass gástrico em Y-de-Roux (técnica bastante comum aqui no Brasil) apresentaram risco duas vezes maior de desenvolver alcoolismo do que aqueles que utilizaram a técnica da banda gástrica. Ou seja, os autores encontraram que essa técnica cirúrgica é um forte preditor independente para abuso de álcool.

O autor principal sugere a hipótese de que as mudanças no metabolismo do álcool após a cirurgia poderiam favorecer o início de quadros de abuso (os pacientes atingem picos mais altos de álcool no sangue e de forma mais rápida).

O link do estudo está aqui.

sábado, 23 de junho de 2012

É benéfico utilizar “recompensas” para promover mudanças de estilo de vida?



Acabei de ler um artigo um pouco antigo (de 1998) mas muito interessante e relevante para o momento em que estamos vivendo. Momento este em que nós, profissionais de saúde, buscamos cada vez mais estratégias que auxiliem nossos pacientes a implementarem mudanças efetivas em seu estilo de vida, com foco na promoção de saúde.

A ciência comportamental tradicional diz que nossos comportamentos são movidos pelas “recompensas” que obtemos deles, e com o tempo acabam se tornando hábito (mesmo que a “recompensa” não esteja mais presente). Ou seja: se um rato numa gaiola sente cheiro de queijo, ele vai tentar alcançá-lo, pois sabe que vai obter algo bom com esta ação. Se por outro lado ele levar um choque quando pisar perto do queijo, sua busca pelo alimento será inibida.

O problema é que nós, humanos, não somos tão “simplistas” assim (e graças a Deus os bons psicólogos comportamentais já entenderam isso!). O artigo (veja aqui) questiona justamente o benefício do uso reforçadores positivos externos (ou seja, “recompensas”) em programas de promoção de saúde.

Segundo os estudos revisados pelo autor, reforçadores positivos (ou “incentivos externos”) até parecem promover maior adesão a programas de saúde em curto prazo, mas não existem evidências de que mudanças de comportamentos se sustentem a longo prazo com esses reforçadores. E pior: eles podem inclusive gerar problemas adicionais.

Um tipo de problema que pode ser criado é recompensar resultados ao invés de comportamentos. Exemplo típico: incentivar a perda de peso e não as mudanças de hábitos que estão associadas a este objetivo, reforçando a ideia de que “os fins justificam os meios” (basta assistir ao programa televisivo “The Biggest Loser”, em que os concorrentes não medem esforços e fazem de tudo para perder peso, não importando se as estratégias podem trazer inclusive riscos á saúde).

Outro exemplo: suponhamos que uma empresa, como parte de um programa de saúde institucional, resolva dar um bônus aos funcionários que consigam baixar seus níveis de colesterol sanguíneos (notem: o foco da recompensa é o resultado, e não os comportamentos que promoveriam a redução dos níveis de colesterol). Aqueles que não conseguirem alcançar o resultado esperado provavelmente ficarão frustrados e envergonhados, mesmo que estejam se engajando em hábitos saudáveis com este fim. Isto não gera saúde.

Devemos entender que comportamentos não-saudáveis (como fumar, beber em excesso, apresentar exageros alimentares frequentes ou mesmo compulsões alimentares) normalmente atuam como estratégia de enfrentamento ou evitação de problemas, e o uso de recompensas não busca entender quais são de fato os gatilhos e origens desses problemas. Ou seja: não são abordadas as causas reais desses comportamentos! Com isso, eles tendem a se repetir a longo prazo, quando a recompensa ou incentivo perde seu apelo original.

Moral da história: os verdadeiros incentivos são aqueles que vem da nossa motivação interna, que é construída a cada dia por meio do autoconhecimento.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Projeto mostra fotos de mulheres nuas sem retoques (e a próxima pode ser você!)





O fotógrafo americano Matt Blum está procurando voluntárias brasileiras para seu projeto “The Nu Project”, que reúne desde 2005 fotos de mulheres nuas ao natural, sem maquiagem ou retoques. Ao final do ensaio, a “modelo” recebe dez fotos suas para guardar de recordação. Mais de 100 mulheres de vários países já participaram.
Às corajosas voluntárias (no site já constam inscritas de São Paulo, Rio, Recife, Brasília, Salvador e Belo Horizonte!), as inscrições para a seleção podem ser feitas aqui. De qualquer modo, vale a pena entrar no site para conferir as imagens, que de fato são muito belas e interessantes.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Estigma da obesidade gera mais impactos negativos à saúde do que a obesidade em si



Hoje li um estudo americano de 2008 (veja aqui) muito interessante, que após analisar uma amostra de mais de 170 mil indivíduos adultos chegou à seguinte conclusão: a diferença entre o peso atual do sujeito e seu peso desejado foi um preditor de saúde (mental e física) mais forte do que o IMC em si. Ou seja: o estudo encontrou que o desejo de perder peso é mais impactante à saúde (negativamente falando!) do que a adiposidade propriamente dita. E surpresa: esse efeito foi mais forte em mulheres do que em homens...

Esse resultado é mais uma evidência do quão negativo é o estigma da obesidade em nossa sociedade.

Aproveito para deixar uma dica de livro também:
Fat: the anthropology of an obsession

Bom feriado!

quinta-feira, 31 de maio de 2012

A importância do ouvir



Esses dias estive pensando sobre o papel dos profissionais de saúde atualmente. Na maioria das vezes, assumimos uma postura essencialmente curativa. Incorporamos a ideia que os casos que atendemos são essencialmente iguais quando a patologia é a mesma. Reduzimos o tempo de atendimento e limitamos as perguntas que fazemos aos pacientes, pois muitas vezes "já sabemos o que eles vão responder". Generalizamos conceitos. Assumimos que sabemos exatamente como "curar" o indivíduo.

Só que, na verdade, não é bem assim.

Os casos e patologias podem ser semelhantes, ter o mesmo diagnóstico, mas as pessoas são diferentes. Suas histórias de vida são diferentes. E quando estamos falando de quadros que envolvem sofrimento psíquico, além de físico, isso se torna especialmente importante.

Um outro problema dessa postura curativa, pelo menos para nós nutricionistas, é o fato de acreditarmos que somos responsáveis pela cura dos sintomas e pela cura do sofrimento de alguém, ao passo que o sofrimento por si só é inerente à existência humana. Temos na manga milhões de prescrições, dicas, sugestões e estratégias, o que de certa forma é importante, mas esquecemos que o principal responsável pela mudança de comportamentos é o próprio paciente. Esquecemos que, muitas vezes, se estimulassemos mais a conversa e adotássemos a escuta ativa, as soluções partiriam do prórpio paciente.

Muitos profissionais se sentem confusos com essa abordagem porque, além de outras coisas, sentem que perderiam a função e a importância dentro do tratamento. E é justamente aí que se enganam. É aí que o vínculo com o paciente se torna mais forte e essencialmente terapêutico. É quando conseguimos obter significados daquilo que ouvimos e que num primeiro momento parecia insignificante.

Tem uma frase da americana Laura Douglass que gosto muito e que me fez repensar meu papel como nutricionista (inclusive, esta frase está neste artigo, muito interessante! Quem quiser manda um email que tenho a versão na íntegra!): "Eu não preciso resolver cada conflito, mas sim criar um contexto, um ambiente propício, em que ideias e posições conflitantes são convidadas a brincar e imaginar novas formas de conviverem juntas".

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Meditação/Mindfulness no tratamento dos transtornos alimentares



Hoje vou falar brevemente (afinal, é sexta-feira!) sobre um assunto que tem despertado cada vez mais o meu interesse: o uso de estratégias de meditação/mindfullness no tratamento dos transtornos alimentares (detalhe: essas estratégias também vem sendo estudadas - com resultados promissores - em outros casos, como por exemplo na obesidade).

Basicamente, mindfulness refere-se a um conjunto de estratégias para aumentar a percepção do indivíduo a respeito de um determinado aspecto de sua vida, ajudando-o a se dar conta daquilo que muitas vezes ele faz de forma automática. Nos transtornos alimentares, essas práticas servem principalmente para aumentar a consciência do paciente a respeito de suas respostas a diferentes estados emocionais; para ajudá-lo a desenvolver uma percepção acurada dos sinais de fome e saciedade que nosso corpo envia; para promover o auto-respeito e a auto-aceitação.

Ainda são poucos os estudos que envolvem essa temática, mas estes já mostram resultados animadores: redução nos episódios de compulsão alimentar; aumento do senso de auto-controle relacionado à alimentação e redução de sintomas depressivos. Para ficar mais claro (não sei se me fiz entender, também estou estudando a respeito!), vale a pena ler este artigo.

Aproveitando a deixa, estou participando como voluntária do estudo da pesquisadora americana Ellen Albertson, sobre meditação e saúde da mulher. Àqueles que tem uma boa compreensão do inglês e gostariam de saber mais sobre a pesquisa (ou mesmo participar dela!), deixo aqui o link.

Um bom fim de semana a todos!

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Boa notícia para os diabéticos!

Mais uma boa notícia! Além da queda no número de amputações em pacientes diabéticos (http://ocorpoemeu.blogspot.com.br/2012/03/educacao-em-diabetes-promove-queda-no.html), um novo estudo encontrou redução em 40% na taxa de mortalidade por doenças cardiovasculares e derrame em adultos norte-americanos com diabetes. Isso reflete uma melhora no tratamento e no auto-cuidado desses indivíduos.
O estudo foi desenvolvido por pesquisadores do US Centers for Disease Control and Prevention (CDC) e do National Institutes of Health (NIH) e avaliou 250.000 pacientes.
Um detalhe interessante é que a incidência de obesidade entre os diabéticos continua subindo, o que indica que o excesso de peso não impede uma maior longevidade para esses indivíduos.

domingo, 6 de maio de 2012

"Doutora, eu quero emagrecer... Mas o problema é que eu gosto de comer!"


Quando ouço isso dos meus pacientes, eu digo: "que bom!". E é verdade, não? Afinal, comer é uma das únicas coisas que faremos até o último dia de nossas vidas. Se a pessoa não gostar de comer, imagine que vida chata ela vai levar?

Mas eu entendo que quando os pacientes me dizem isso eles querem na verdade dizer: “doutora, eu acho que por gostar muito de comer eu como demais”; ou então: “doutora, quando eu como alguma coisa que eu acho que não deveria ter comido, sinto-me extremamente mal e culpado por isso”.

O problema não é gostar de comer. É a culpa que vem junto.

Quem gosta de fato de comer sente prazer. E sentir prazer durante o ato alimentar pressupõe permissão incondicional para comer de tudo, ou seja, a pessoa que gosta de chocolate se permite comer chocolate sempre que sente vontade, e não fica mal ou culpada por causa disso. Ela sabe que sempre que quiser chocolate vai poder comer, e justamente por isso ela não sente vontades loucas de comer esse alimento a todo momento. Ela não acha que chocolate é a melhor coisa que existe. Ela sabe que existem outros prazeres na vida. E ela se satisfaz com pouco.

Gostar de comer é apreciar o alimento quando se está comendo, é permitir-se aproveitar a experiência como um todo: observar as cores e a textura do alimento, sentir o cheiro, comer lentamente, saboreando, e ficar feliz com isso. E não comer depressa, desejando não ter comido, não se permitindo nem sentir o gosto. Gostar de comer é entender que a comida é uma forma de auto-cuidado, e não uma forma de se machucar.

Relacionado a este tema, encontrei um artigo bastante interessante (veja aqui) publicado na conceituada revista científica Appetite, em 2010. Ele avaliou 82 pessoas com sobrepeso ou obesidade e percebeu que aquelas que apresentavam anedonia (isto é, a perda da capacidade de sentir prazer) apresentavam mais episódios de compulsão alimentar e de comer emocional, além de perderem menos peso durante o estudo.

Ou seja, a ideia é sentir prazer com a comida. E não o contrário.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Obesos apresentam menor taxa de mortalidade após cirurgia de bypass coronário

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Mais uma evidência que valida o "paradoxo da obesidade", resultado de um estudo americano que acompanhou durante dois anos 60.635 pacientes que passaram por uma cirurgia chamada coronary artery bypass graft (ou seja, uma cirurgia cardíaca realizada conectando-se enxertos de veias ou artérias de outras partes do corpo antes e depois de um estreitamento coronariano para permitir um fluxo sanguíneo adequado para o músculo cardíaco; mais conhecida como ponte de safena!): pacientes com sobrepeso ou obesidade apresentaram redução em 30% na mortalidade por todas as causas após a cirurgia em comparação com indivíduos eutróficos (de peso normal), depois de um ajuste estatístico para fatores como idade, tabagismo, hipertensão, etc.
Um exemplo mais claro: no período compreendido entre 3 meses e 2 anos após a cirurgia, a taxa de mortalidade em pacientes eutróficos foi de 6,3%, comparada com 4,1% em pacientes com sobrepeso e 3,8% em pacientes obesos

quarta-feira, 25 de abril de 2012

E as crianças não cansam de nos inspirar!



Nos Estados Unidos, Marshall Reid, um garoto de 12 anos, obeso, em cuja casa o status quo era comer com frequência alimentos industrializados como pizza, hambúrgueres e nuggets, tomou uma decisão bastante corajosa ao ser chamado de gordo por um amigo da escola: resolveu descobrir o prazer de uma alimentação mais saudável por meio da culinária!


Como se não bastasse a tarefa difícil que viria pela frente, ele teve que enfrentar um ambiente familiar "hostil": sua mãe não gostava de cozinhar; seu pai estava em missão militar no Iraque; e sua irmã mais velha adorava junk food. No fim, sua motivação acabou promovendo mudanças de hábitos em todos de sua família.


A inciativa do garoto (que já virou um livro) mostra uma das maiores dificuldades de um bom trabalho de reeducação alimentar, especialmente com crianças: ele requer esforço conjunto entre os membros de uma família, o que se torna complicado já que cada um tem um estilo de vida e um relacionamento distinto com a comida.


Um ótimo exemplo de como podemos aprender - e muito! - com as crianças.*


* Gostaria de dedicar esse post à minha amiga nutricionista/gastrônoma Maria Luiza Petty, que faz um ótimo trabalho nutricional com crianças por meio da culinária!!!


Observação: a reportagem completa do "The New York Times" que inspirou esse post pode ser lida aqui

domingo, 15 de abril de 2012

Lipoaspiração abdominal não melhora resistência à insulina e fatores de risco cardiovascular em mulheres obesas

Hoje li um estudo de 2004 muito bem conduzido, que merece ser comentado: “Absence of an effect of liposuction on insulin action and risk factors for coronary heart disease” (o link está na lista aqui do blog de artigos interessantes).

O estudo avaliou o efeito da lipoaspiração abdominal de alto volume na melhora de fatores de risco cardiovascular (circunferência abdominal, pressão arterial, concentração de lipídios no plasma e marcadores sorológicos de inflamação) e na melhora da sensibilidade à insulina de mulheres obesas que apresentavam resistência à ação desse hormônio.

Simplificando: os pesquisadores submeteram 15 mulheres obesas à lipoaspiração abdominal, retirando da região um total de 10kg de gordura subcutânea (aproximadamente 20% do total de gordura corporal total), e avaliaram os fatores de risco cardiovascular e a presença de resistência à insulina antes do procedimento e depois de 12 semanas. Detalhe: a resistência à insulina foi avaliada com a técnica do clamp euglicêmico e hiperinsulinêmico, que é considerada “padrão-ouro” para esse tipo de avaliação (ou seja, fornece a mais pura e reprodutível informação sobre a ação da insulina nos diferentes tecidos).

Os resultados após 12 semanas indicaram que não houve alterações significativas na sensibilidade à insulina no fígado, músculo e tecido adiposo e em alguns fatores de risco cardiovascular (níveis sanguíneos de lipídios, proteína C-reativa, interleucina-6, fator de necrose tumoral α e adiponectina; e valor de pressão arterial). Isto é: apesar da lipoaspiração ter promovido redução de peso e de circunferência abdominal, não houve mudanças significativas no risco cardiovascular e na resistência à insulina das participantes do estudo.

Muitos profissionais de saúde podem argumentar: “oras, mas a gordura que foi retirada com a lipoaspiração é a gordura abdominal subcutânea, e não a visceral, que é considerada mais prejudicial”. Entretanto, há um contra-argumento: tanto a gordura abdominal subcutânea quanto a abdominal visceral estão associadas à resistência à insulina, como demonstram os seguintes estudos: “Subcutaneous rather than visceral adipose tissue is associated with adiponectin levels and insulin resistance in young men”, revista “Journal of Clinical Endocrinology and Metabolism”, 2009; “Abdominal subcutaneous and visceral adipose tissue and insulin resistance in the Framingham heart study”, revista “Obesity”, 2010 (links: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19755479 e http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20339361). Ou seja, era de se esperar que a retirada da gordura subcutânea por meio do procedimento cirúrgico traria benefícios (mesmo que mínimos) nos parâmetros de resistência à insulina, certo?!

Este estudo gera argumentos favoráveis à idéia de que não é o emagrecimento per seque gera benefícios metabólicos, e sim as mudanças no estilo de vida que normalmente acompanham um emagrecimento saudável (melhores hábitos alimentares, prática de atividade física). Os estudos recentes vêm mostrando cada vez mais que uma mudança de foco é necessária: indicadores de saúde podem ser melhorados por meio de mudanças no estilo de vida, independentemente da perda de peso.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Mais uma das companhias aéreas...



E lá se foi minha cota de humor matinal nesta segunda-feira. Acabei de ler no site da UOL a seguinte manchete: "Para poupar combustível, companhia aérea incentiva comissários de bordo a perder peso".

A fim de se tornar uma empresa mais "verde" (ou mais negra, na minha opinião), a companhia aérea européia Ryanair está adotando uma série de medidas para economizar no uso de combustível, dentre elas o incentivo para que as aeromoças percam peso.
O "prêmio" seria uma sessão de fotos sensuais para o calendário anual da empresa.

Imagino qual será o "prêmio" para as funcionárias que não quiserem/não conseguirem perder peso...

quinta-feira, 5 de abril de 2012

American Airlines e os estereótipos americanos

Os americanos são de fato os reis da criatividade. São tão criativos que às vezes inventam idéias que mais parecem piadas de mau gosto.

A companhia aérea American Airlines, em pareceria com o “Physicians Committee for Responsible Medicine” (traduzindo livremente: “Comitê Médico pela Medicina Responsável”), criou a seguinte estratégia de marketing: quer voar de forma mais confortável? Pague dez dólares a mais e sente-se ao lado de um vegano (pra quem não sabe, vegano é o indivíduo que segue uma dieta vegetariana restrita, sem nenhum tipo de produto de origem animal, nem mesmo mel).

O comercial, divulgado no Youtube (http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=sIzngoAUoNM), mostra uma pessoa que pagou a taxa extra e sentou-se ao lado de uma bela loira, enquanto que outro indivíduo que não pagou sentou-se ao lado de um obeso. Como se de fato ser vegano significasse necessariamente ser magro (ou loiro, ou bonito...), e ser onívoro (quem come carne) significasse ser obeso.

Valeu pelos estereótipos, hein, American Airlines! E esse tal de “Comitê pela Medicina Responsável”, na minha opinião, de responsável não tem nada. Está contribuindo ainda mais para aumentar o estigma da obesidade em nossa sociedade, o que está intimamente relacionado a problemas alimentares e psicossociais nos obesos.

Alguém mais entende que é papel das companhias aéreas aumentarem o conforto dos clientes? São as poltronas que devem aumentar, e não as pessoas que devem diminuir!

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Dieta não é reeducação alimentar!

Hoje vou falar sobre um tema que me deixa muito intrigada na minha prática profissional: o fato de muitos pacientes acreditarem que “dieta” é sinônimo de “reeducação alimentar”.

Dieta é assumir que existem alimentos saudáveis e não saudáveis. Dieta é supervalorizar um alimento qualquer só porque ele “está na moda” ou está sendo mais falado pela mídia. Dieta é assumir que determinados alimentos são “milagrosos” ou têm “super poderes”. Dieta é achar que “doce engorda”, não importando a circunstância e a quantidade. Dieta é assumir que as nossas escolhas alimentares são puramente racionais, fruto somente do nosso conhecimento nutricional e do auto-controle que temos sobre nós próprios. Dieta é se convencer de que o valor nutricional dos alimentos é mais importante do que as vontades individuais e nossos gostos alimentares. Dieta é sentir culpa ao comer algo que alguém determinou que eu não deveria comer. Dieta é desrespeitar os sinais de fome, apetite e saciedade que o corpo envia. Dieta é desvalorizar o papel que o prazer em comer tem na promoção da saúde holísitca (física e mental) de um indivíduo. O conceito de dieta é efêmero, muda a cada estação. Dieta é desrespeitar sua individualidade e seu corpo.

Reeducação alimentar é assumir que não existem categorias distintas de alimentos, saudáveis e não saudáveis, mas entender que o que existe de fato é alimentação saudável. Reeducação alimentar é entender o papel biopsicossocial do alimento em nossa vida. Reeducação alimentar é saber que o que de fato engorda são exageros frequentes, que muitas vezes surgem porque restringimos nossa alimentação e não nos permitimos de fato comer o que gostamos e o que queremos. Reeducação alimentar é entender e respeitar os sinais nobres de fome, apetite e saciedade que o corpo manda. Reeducação alimentar é saber de fato quando estou com vontade de comer um doce ou quando quero comer o doce para obter um conforto emocional (e saber que posso fazer isso se quiser!). Reeducação alimentar é redescobrir o prazer em comer, não importando se é bolo de chocolate ou brócolis ao vapor. Reeducação alimentar requer esforço e auto-conhecimento. Reeducação alimentar é uma série de comportamentos e práticas que adquirimos para a vida toda.

Entenderam?!

Gosto muito de um texto da nutricionista americana Ellyn Satter, que define de forma ampla e bela o que uma alimentação saudável:

“Alimentar-se normalmente é ser capaz de comer quando você está com fome e continuar comendo até você ficar satisfeito. É ser capaz de escolher os alimentos que você gosta e comê-los até aproveitá-los suficientemente – e não simplesmente parar porque você acha que deveria. Alimentar-se normalmente é ser capaz de usar alguma restrição na seleção de alimentos para consumir os alimentos certos, mas sem ser tão restritivo a ponto de não comer os alimentos prazerosos. Alimentar-se normalmente é dar permissão a você mesma para comer às vezes porque você está feliz, triste ou chateado ou apenas porque é tão gostoso. É também deixar alguns biscoitos no prato porque você pode comer mais amanhã ou então comer mais agora porque eles têm um sabor maravilhoso quando estão frescos. Alimentar-se normalmente é comer em excesso às vezes e depois se sentir estufado e desconfortável. Também é comer a menos de vezes em quando, desejando ter comido mais. Alimentar-se normalmente é confiar que seu corpo conseguirá corrigir os errinhos da sua alimentação. Alimentar-se normalmente requer um pouco do seu tempo e atenção, mas também ocupa o lugar de apenas uma área importante, entre tantas, de sua vida. Resumindo, o “comer normalmente” é flexível e varia em resposta às nossas emoções, nossa agenda, nossa fome e nossa proximidade com o alimento.” (Satter, 1987)

Uma boa e prazerosa Páscoa a todos!

segunda-feira, 26 de março de 2012

Educação em diabetes promove queda no número de amputações



Nos dias 24 e 25/3, ocorreu aqui em São Paulo o 15o Congresso da ADJ/Diabetes Brasil, destinado a pacientes com diabetes, onde fui palestrante. Como ainda estou no clima do evento, resolvi dedicar este post aos diabéticos, já que ele traz uma ótima notícia!
O órgão americano CDC ("Center for Disease Control and Prevention", ou seja, "Centro de Controle e Prevenção de Doenças") divulgou que nos últimos 20 anos houve queda significativa no número de amputações em diabéticos.
O estudo, conduzido pelo próprio órgão, avaliou os registros americanos de alta hospitalar entre 1988 e 2008, buscando pacientes com 40 anos ou mais que houvessem perdido dedos, pés ou pernas devido ao diabetes. Apesar dos casos da doença terem triplicado nesse período, o número de amputações caiu de 11 a cada 1000 casos para 4 a cada 1000 casos.
Os autores atribuem esse resultado à uma evolução dos tratamentos existentes atualmente, à maior frequência de monitoração glicêmica e à melhora na educação dos pacientes.