"Comece a se enxergar como uma alma com um corpo, e não como um corpo com uma alma"
São Paulo, 16/12/2015. Natal chegando, ano acabando e, como
tal, não poderia deixar de refletir sobre as metas que criei para mim mesma
esse ano, e sobre as quais vou colocar para o ano que vem.
Tenho uma prática pessoal que sempre indico a amigos e
pacientes: pegar um papelzinho, escrever as metas que hoje desejo para o ano
seguinte (devem ser relevantes, mensuráveis e passíveis de serem alcançadas;
veja mais como sobre criar metas aqui)
e colocar nos dias finais da agenda, para ler só quando o próximo ano estiver
acabando. Ontem li as metas que em 2014 coloquei para esse ano, e fiquei
satisfeita por ver que muitas delas haviam sido alcançadas; algumas foram
aperfeiçoadas para 2016; e outras, ainda, foram descartadas, pois percebi que
mesmo que não tenham sido alcançadas, não têm mais importância. Engraçado, pois
parece muitas vezes que temos plena certeza daquilo que queremos, mas quando
esperamos um pouco e deixamos a vida seguir seu curso natural, percebemos que as
“certezas” já não carregam o mesmo significado e importância...
Noto que muitas pessoas hoje em dia criam metas a
respeito do corpo: “ano que vem, perderei x quilos”; “ano que vem, alcançarei y%
de gordura corporal”; “ano que vem, terei ganhado mais massa muscular”. Os tais “Projeto
Verão” que surgem nessa época estão aí para reforçar essa ideia.
A grande questão é que não controlamos nosso corpo. Podemos
ter controle e responsabilidade sobre quantas vezes na semana vamos à academia ou
quantas vezes comemos fritura, mas a realidade é que não temos
autonomia sobre as mudanças que podem – ou não – ocorrer em nosso corpo se controlarmos
essas variáveis. Muitas vezes, enxergamos nosso corpo como uma “massinha
de modelar”, que pode sempre ser alterada e modificada, contanto que
empreguemos algum “esforço” (“força, fé e foco”, dizem os adeptos do fitness). Mas esquecemos que as
respostas do nosso corpo dependem não só de estímulos, mas também de genética,
da liberação de hormônios, do tipo de estrutura óssea que temos, e de muitos
outros fatores sobre os quais não temos domínio e acesso.
Vivemos hoje uma verdadeira “corpolatria”; damos importância
excessiva à aparência do corpo, tornando-a um determinante do nosso grau de
bem-estar e qualidade de vida. Tenho estudado a filosofia budista e descobri
que a palavra que eles usam para designar corpo é “lü”, que significa “algo que
você deixa para trás”, como bagagem. Um monge budista chamado Thich Nhat Hanh disse
também que “o corpo pertence à terra”. E é a mais pura verdade! Acho surreal
darmos mais valor à forma do corpo, que é algo por definição mutável e
impermanente, do que a aspectos mais essenciais de nossos ser, como valores,
trabalho, família, espiritualidade...
Sugiro então, nesse final de ano, que reflitamos um pouco
mais sobre as metas que colocaremos para 2016. Que seja um ano de mais
crescimento interno e realizações pessoais verdadeiramente significativas.
Boas festas a todos!