domingo, 26 de agosto de 2012

Prevenção de diabetes por meio de cirurgia?


Estudo recente publicado no “The New England Journal of Medicine” indica: a cirurgia bariátrica pode ser indicada num futuro breve a pacientes com excesso de peso para prevenção de diabetes tipo 2 (DM2).

A pesquisa, que acompanhou durante 15 anos 1.658 sujeitos que fizeram cirurgia bariátrica (banda gástrica ou gastroplastia vertical com banda ou bypass gástrico) e 1.771 sujeitos que foram tratados de forma convencional para perda de peso, mostrou que aqueles que passaram por algum dos procedimento cirúrgicos tiveram redução de cerca de 80% no risco de desenvolvimento de DM2, em comparação com o grupo controle.

Algumas questões que merecem ser levantadas:

1. Os critérios de inclusão para o procedimento cirúrgico no estudo eram: idade entre 37 e 60 anos e IMC ≥ 34kg/m² em homens e ≥ 38kg/m² em mulheres, mesmo sem comorbidades. Atualmente, a indicação formal para a cirurgia é para pacientes que apresentem IMC superior a 40gm/m² ou IMC ≥ 35kg/m² com alguma comorbidade. Ou seja: vários pacientes do estudo provavelmente fizeram a cirurgia sem de fato terem indicações para tal...

2. Em relação ao grupo controle, o “tratamento convencional” para perda de peso poderia incluir ou não a intervenção de algum profissional, ou seja, muitos pacientes (mais precisamente: 46%) sequer receberam ajuda especializada! Isso sem falar naqueles que passaram pelo conhecido “yo-yo dieting”, ou seja, perdiam e reganhavam peso intermitentemente, o que já se sabe que aumenta o risco de desenvolvimento de DM2...

Para os indivíduos do estudo que apresentavam pré-diabetes antes da cirurgia (glicemia de jejum ≥ 100mg/dL e < 126mg/dL) , o risco de desenvolvimento de diabetes diminuiu ainda mais, cerca de 90%. Entretanto, há de se considerar que a existência de pré-diabetes por si só não garante que o paciente desenvolverá DM2 em algum momento da vida! Este estudo, por exemplo, mostrou que num grupo de indivíduos com glicemia de jejum entre 100 e 109mg/dL, a incidência de DM2 foi de 1,34% ao ano (ao longo de 41 meses). Já num grupo de sujeitos com glicemia de jejum entre 110 e 125mg/dL, esta incidência foi de 5,56% ao ano (ao longo de 29 meses).

E tem mais: mesmo para obesos que já tenham DM2, as técnicas cirúrgicas que temos hoje não garantem a remissão completa da doença! Um estudo chegou a encontrar uma taxa de reincidência da doença de 21% em cinco anos (veja aqui).

Mas a pergunta essencial que martela em minha cabeça é a seguinte: para que expor um paciente a um procedimento cirúrgico para prevenir DM2 se ele nunca nem mesmo tentou mudar seu estilo de vida com a ajuda de profissionais confiáveis e gabaritados para tal?

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Obesos metabolicamente saudáveis: isto existe?


Uma das perguntas mais importantes da ciência médica atualmente é a seguinte: ser gordo aumenta de fato os riscos de problemas à saúde? E cada vez mais as pesquisas vêm chegando à seguinte conclusão: não necessariamente.

Por exemplo: um estudo fresquinho e muito bem conduzido, publicado no "The Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism", acompanhou durante sete anos um grupo de 22.203 indivíduos. Neste período, houve 604 mortes por doenças cardiovasculares (DCV) e 1.868 mortes por outras causas. Os resultados mostraram claramente: indivíduos obesos que não tinham alterações metabólicas (valores elevados de pressão arterial, proteína C reativa e circunferência de cintura; diagnóstico de diabetes e valores reduzidos de HDL) não apresentaram maior risco de morte por DCV ou outras doenças, em comparação com indivíduos não obesos e que também não apresentavam alterações metabólicas.


Sabe-se que existe uma relação considerável entre depósitos de gordura visceral (aquela que fica entra os órgãos, na cavidade abdominal) e hepática e o desenvolvimento de DCV. Uma hipótese razoável seria imaginar que esses indivíduos obesos do estudo acima, que não apresentavam risco cardiovascular (5,2% da amostra total de participantes), tinham níveis baixos desse tipo de gordura no corpo. Ou seja, concentravam mais gordura subcutânea.

Muitos podem dizer: "bom, tudo bem, mas é MUITO raro encontrar indivíduos obesos com esse perfil na prática!". E os estudos também mostram: nem tanto! Na pesquisa acima, por exemplo, os indivíduos obesos sem alterações metabólicas representavam 22% do total de obesos acompanhados. Outros estudos (veja aqui e aqui) que analisaram amostragens expressivas de indivíduos obesos mostram porcentagens similares.

O que diferenciaria então os obesos saudáveis dos obesos com risco aumentado para o desenvolvimento de doenças? Os fatores mais apontados pelos estudos seriam aqueles relacionados ao estilo de vida: qualidade/horas de sono, alimentação, prática de exercícios físicos, fatores emocionais e psicossociais, dentre outros.

E você, já pensou hoje sobre a maneira como está levando sua vida?

domingo, 5 de agosto de 2012

O que podemos aprender com os atletas olímpicos


Nesta última semana, tive o privilégio de acompanhar diversas competições dos Jogos Olímpicos de 2012*, nos mais diferentes esportes.

O que mais me chamou atenção foi a constante superação humana ilustrada pelos atletas: um biamputado competindo com atletas "normais"; um nadador que em sua história olímpica conquistou mais medalhas que diversos países da América Latina juntos; uma nadadora chamada de "gorda" pela imprensa, mas que ainda assim classificou-se com o quinto melhor tempo do mundo na prova em que competiu. Estamos vivendo numa época de mitos e grandes exemplos.

Mas a lição mais importante que os Jogos Olímpicos vão deixar, na minha opinião, é a vibração e o prazer dos atletas em levarem seus corpos ao extremo, provando que tudo é possível e que o esporte é para todos.

Portanto, ao invés de sucumbir de vez ao sedentarismo neste restinho de Olimpíadas, assistindo às competições sentado no sofá, inspire-se nos altetas e escolha uma atividade física que te pareça agradável, que te traga bem-estar. Teste seus próprios limites e sinta no corpo o prazer de se movimentar, descobrindo que ele pode ser muito mais do que um mero gerador de insatisfação.

*Aos que não estão conseguindo acompanhar as competições, sugiro o blog do meu querido amigo Guilherme Costa, jornalista esportivo da Record que está em Londres cobrindo as Olimpíadas: http://brasilemlondres2012.blogspot.com

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Apenas metade dos pacientes cardíacos adere às medicações de uso crônico

Uma nova pesquisa americana divulgada no "American Journal of Medicine", que acompanhou 275.000 pacientes com risco cardíaco e 101.000 pacientes que já apresentavam alguma patologia cardíaca, traz dados preocupantes:

- apenas 57% dos indivíduos continuam tomando medicações de uso crônico (exs: estatinas, antihipertensivos, aspirina) após um ano;
- um terço dos pacientes que já sofreram um ataque cardíaco abandona o uso da medicação com o tempo.

Os autores do estudo sugerem que a não aderência medicamentosa poderia estar relacionada a um receio dos efeitos colaterais das medicações, ao abandono do acompanhamento médico e a um desconhecimento por parte dos pacientes dos mecanismos de ação específicos de cada droga.

Pois vejam só: se é tão difícil manter a aderência a uma medicação (que teoricamente é uma coisa simples, o indivíduo só precisa tomar o comprimido!), que dirá aderir a mudanças comportamentais na alimentação...