Recentemente, me mandaram a seguinte postagem de Facebook: “Cada portador de TA (transtorno
alimentar) tem o direito de decidir se sofre de uma condição psicológica ou se
apenas aderiu a um estilo de vida, e há muitas vertentes que consideram o
segundo caso como correto”.
É de certa forma comum pacientes com transtorno alimentar –
que, vamos deixar bem claro aqui, é SIM uma doença psiquiátrica – em algum
momento não internalizarem/aceitarem que de fato estão doentes. Primeiro porque
às vezes a doença é tão grave que a pessoa já se identificou com ela, ou seja,
o transtorno alimentar já faz parte de sua identidade. Segundo porque o
tratamento de um transtorno alimentar é longo, complexo e normalmente caro, já
que exige a atuação de vários profissionais especializados (pelo menos
nutricionista, psiquiatra e psicólogo). Como se trata, então, de um tratamento
difícil e que requer ampla participação e enfrentamento por parte do paciente,
muitas vezes pode haver uma resistência em se tratar e uma negação do processo
da doença. Nessa linha, um estudo recente publicado no Australian and New
Zeland Journal of Psychiatry (veja aqui) demonstrou que crenças positivas em
relação à anorexia nervosa estavam associadas a uma maior sintomatologia de
transtornos alimentares, tanto em homens quanto em mulheres. Para identificar
as tais crenças positivas, os pesquisadores apresentaram aos participantes (universitários) um relato de um homem e uma mulher com sintomas de anorexia
nervosa, mas sem explicitar abertamente o diagnóstico aos participantes. Consideraram-se
crenças positivas uma admiração dos voluntários em relação ao controle alimentar
exercido pelos personagens fictícios, bem como um desejo de ser parecido com
eles. Ou seja: quem acha "bacana" ter transtorno alimentar provavelmente o tem também...
Sendo assim, confesso que foi um pouco chocante ler esta publicação numa rede social, a opinião de um indivíduo que não
entende sobre isso amplamente disponível para que qualquer pessoa leia e
interprete à sua maneira. Transtorno alimentar NÃO pode ser estilo de vida na medida em que o indivíduo acometido se torna obsessivo, inflexível e apresenta prejuízos no convívio social e na
qualidade de vida. NÃO pode ser estilo de vida quando as
pessoas claramente estão sofrendo com isso.
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