“Bom dia, Fulano, me conte um pouco sobre você e sobre como
posso te ajudar”. Essa é sempre uma das primeiras perguntas que faço a meus
pacientes novos, e confesso que fico com um pé atrás quando a resposta é
uma variante de “eu quero perder peso”, mesmo quando o indivíduo de fato
poderia ser classificado como sobrepeso ou obeso.
Não é porque eu não queira
entender e validar o desejo de emagrecer daquela pessoa; concordo que, em nossa
sociedade bastante gordofóbica, é difícil ser obeso. É difícil se sentir
confiante e ter crítica a todo momento do padrão de
imagens manipuladas e glamourizadas de corpos que nos é imposta. É difícil
lidar com algumas limitações de um corpo gordo (por exemplo, encontrar roupas
confortáveis e que não pareçam “sacos de vestir”, como uma paciente minha descreveu).
A razão principal para eu ficar ressabiada quando o indivíduo
diz que veio me procurar porque quer perder peso é simples: percebo que o desejo de emagrecer
não é um bom motivador para mudanças de comportamento duradouras.
Explico melhor: sou muito fã dos chamados baby steps, ou seja, das mudanças pequenas mas que vamos fazendo
consistentemente e que ao longo do tempo nos alavancam a mudanças maiores e
mais impactantes. Um paciente que quase
nunca come salada e frutas, por exemplo, provavelmente não vai perder peso tão
já; é preciso criar uma meta pequena, como inserir uma fruta no meio da tarde,
para depois de um tempo – quando essa fruta virar hábito – inserir um legume da
preferência do paciente no almoço, e também no jantar, e mais uma fruta... Até
que chegamos a um padrão adequado e saudável de alimentação. Acho que a
maioria dos nutricionistas há de concordar que pequenas mudanças graduais são
mais vantajosas a longo prazo que grandes mudanças radicais e abruptas.
Mas aí entra a ironia da história: quando a motivação do
paciente para mudar comportamentos é emagrecer, ele muitas vezes não tem a
paciência e a disposição para seguir esse processo orgânico. Porque começar comendo uma fruta,
e depois aumentar para duas, e depois colocar a salada não necessariamente faz
com que o indivíduo perca peso de forma rápida. Apesar dos benefícios à saúde
que esses comportamentos estão trazendo, a tão esperada mudança corporal não
vem na mesma velocidade. Então, o indivíduo desanima. Vem o pensamento: se não consigo
fazer “perfeito”, do que adianta? Aí, o modo “dane-se” é ativado e a pessoa
volta a se comportar como antes. Algo parecido acontece com a prática de
atividade física: ou o indivíduo já começa a academia de segunda a sexta, uma
hora ao dia, ou então “do que adianta” fazer duas vezes por semana por 40
minutos? Todo mundo sabe que isso não resolve nada! Nesse momento, o imediatismo toma
conta e parece que qualquer coisa vale, contanto que o número na balança caia
progressivamente.
Por isso que acho contraproducente enfatizar a medida do resultado do
tratamento nutricional em número de quilos perdidos. Prefiro medir com base nos
comportamentos que foram modificados e no bem-estar/saúde que essas mudanças
trouxeram, independentemente da perda de peso. Como diz a nutricionista
americana Mary Ryan, autora do blog BeyondBroccoli: progress, not perfection
(progresso, e não perfeição).
Muito bom. Parabéns Carol! Gosto muito dos seus textos.
ResponderExcluirÓtimo! Parabéns pelo excelente trabalho, com certeza tem sido de grande ajuda à muitas pessoas.
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