domingo, 22 de agosto de 2010

As implicações clínicas do "weight bias" no tratamento de pacientes obesos

Apesar de muitos preconceitos não serem mais aceitos pela sociedade (graças a Deus!), tem um que ainda persiste: o preconceito contra a obesidade. Muitas pessoas ainda acreditam que "só é gordo quem quer", que "gordo é preguiçoso e não tem auto-controle", que "gordo é tudo infeliz", e por aí vai. O mais lamentável, na minha opinião, é que muitos profissionais de saúde, que deveriam apoiar o paciente sem julgá-lo, estão entre estas pessoas. Sejam eles médicos, enfermeiros, psicólogos, professores de educação física... Esqueci alguém? Ah, sim: os nutricionistas. Como me formo esse ano e, portanto, sou quase uma delas, posso dizer com certeza que o tema "weight bias" (poderia ser traduzido como "preconceito da obesidade") nunca foi abordado ao longo do curso de Nutrição, como se o assunto não nos disesse respeito. Isso é ruim? Um estudo fresquinho (e muito interessante) diz que sim. Uma amostra de 182 estudantes de Nutrição (quase todas mulheres e com peso normal) de várias universidades americanas avaliou um dos quatro perfis hipotéticos criados pelos autores do estudo: uma mulher obesa ou um homem obeso ou uma mulher com peso normal ou um homem com peso normal. Todos esses "pacientes" tinham exames normais(colesterol, glicemia, pressão), a dieta de todos era adequada (ingestão recomendada de gorduras, fibras e frutas/verduras) e todos faziam uma quantidade razoável de atividade física (30 minutos de atividade moderada, 4 vezes na semana). Ou seja: eles eram perfeitamente saudáveis! Foi solicitado aos alunos que dessem uma nota de 1a 5 ao estado de saúde geral e à qualidade da dieta dos "pacientes". Além disso, os futuros nutricionistas responderam a um questionário que avaliava a atitude deles em relação a pessoas obesas (Fat Phobia Scale). Os resultados são surpreendentes: foi encontrado um grau considerável de "fat phobia" nos alunos, isto é, uma atitude negativa em relação a pessoas obesas, o que determinou uma avaliação mais negativa do estado de saúde e da dieta dos "pacientes" gordos. Além disso, os alunos que analisaram os perfis obesos disseram que eles seriam pouco participativos no tratamento e que seria menos provável eles seguirem as orientações propostas.
As implicações desses achados são muito sérias. Assumir que um paciente será menos participativo no tratamento simplesmente pelo fato dele ser gordo é preocupante, já que isto não está baseado em nenhum estudo ou informação coerente. Qual será a dedicação e o engajamento de um profissional que logo de cara já considera o paciente "um caso perdido"? E o fato dos alunos assumirem automaticamente que a saúde e a dieta dos perfis obesos era pior que a dos outros, mesmo isto não sendo verdade, contribui para a perpetuação dos estereótipos negativos contra obesos. A mensagem que se passa é a seguinte: "ok, você tem exames normais, come bem e faz atividade física, mas só isso não adianta. Afinal, você é gordo." Será que o paciente vai continuar se esforçando para ser saudável?! Você continuaria?!

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

O que está por trás da obsessão com comida e peso

Bom dia pessoal!
Acabei de ler um capítulo de um livro muito bacana, chamado "Women, Food and Good: an unexpected path to almost everyhting" (a tradução seria algo do tipo "Mulheres, Comida e Deus: um caminho inesperado para quase tudo"). A autora, Geneen Roth, defende que nosso relacionamento com a comida é um reflexo do nosso relacionamento com a vida.
Neste capítulo específico, ela coloca que não é raro pensarmos que nossa vida pode melhorar se emagrecermos: seremos mais felizes, satisfeitos, saudáveis e ativos. Entretanto, ela diz que se passamos boa parte do tempo obcecados com essa idéia, se realmente acreditamos nisso como sendo uma verdade absoluta, alguma outra coisa está se passando por trás. A luta contra o peso pode estar camuflando uma luta maior em outras áreas da vida, que não queremos - ou achamos que não conseguimos - enfrentar.
A mentalidade focada na perda de peso altera a relação de uma pessoa com a comida, que adquire então uma importância sem igual. Não se consegue parar de pensar nela; surgem vontades absurdas de comer determinados alimentos, principalmente daqueles que são "proibidos". Existem também as pessoas que usam o alimento como "sedativo", comem em resposta a alguma emoção, comem para não ter que senti-la de fato. E não comem com prazer, saboreando a comida e observando sua textura, sua cor, seu aroma... Comem rapidamente, em grandes quantidades. "Oras, eu como muito porque sou sem-vergonha, amo comer!". Isso não é amor. Quando se ama algo, você presta atenção naquilo, você gasta tempo com aquilo, você sente prazer.
A questão é: se você perde peso e ainda assim não aprende a lidar com determinadas situações e emoções que te deixam desconfortáveis, é provável que você continue recorrendo à comida em alguns momentos.
Quem tiver interesse, pode me pedir esse capítulo gratuito em PDF e ouvir a autora lendo mais um trecho da obra num vídeo do Youtube: http://www.youtube.com/watch?v=82Znw2UYH4c&feature=player_embedded
Aproveitem!

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

É grande o número de cirurgia bariátrica em jovens

Saiu na Folha de São Paulo na semana passada um alerta alarmante: no ano passado, 1.500 das 30.000 cirurgias bariátricas realizadas no país foram feitas em menores de 20 anos. Apesar das normas brasileiras determinarem que somente asdolescentes maiores de 16 anos podem ser submetidos à cirurgia, e só se apresentarem índice de massa corpórea (IMC) acima de 40 e outras comorbidades associadas (hipertensão, diabetes, etc), a tendência, segundo alguns médicos, é aumentar as indicações. Entretanto, alguns profissionais mais sensatos relembram que ainda não se sabe ao certo os efeitos a longo prazo dessa cirurgia em adultos, que dirá em adolescentes. A mutilação do sistema digestivo de jovens pode trazer inúmeros riscos nutricionais (insuficiência de proteínas, vitaminas, minerais), psicológicos e psiquiátricos (distúrbios de imagem corporal por conta do emagrecimento rápido, desenvolvimento de transtornos alimentares), além dos riscos cirúrgicos inerentes à própria cirurgia.