Dia desses numa roda de amigos, ouço um papo trivial:
“Nossa, quanto tempo! Como você está?”
“Ótima, e você?”
“Também!”
“Esses dias lembrei mesmo de você, vi aquele seu amigo, o
Fulano...”
“Qual Fulano? Aquele ‘saradão’?”
Essa conversa me fez pensar por alguns instantes.
Provavelmente, esta última pessoa conhecia dois Fulanos, e na tentativa de identificar
sobre qual deles estava se falando, ela fez uma referência explícita ao seu
corpo. E não se referiu, por exemplo, à cor dos olhos ou à altura de Fulano,
que são características naturais e imutáveis; não se referiu também a seus gostos
pessoais ou seus traços de personalidade (“qual Fulano, aquele advogado?” ou “qual
Fulano, aquele engraçado/mal humorado?”).
Foi aí que eu percebi que talvez Fulano tenha se tornado um
molde. Fulano agora será lembrado por aquilo que ele aparenta ser: apenas um
corpo.
Não quero aqui moralizar quem valoriza o cuidado estético do
corpo; afinal, como o próprio título do blog diz, o corpo é de cada um, cada um
tem sua verdade sobre o que é melhor e mais desejado para si próprio. Mas eu
particularmente não gostaria de ser lembrada como “a Carol, aquela
gorda/magra/sarada/peituda/sem peitos”. Isso me afastaria da essência de quem
eu de fato sou, dos meus valores e, mais importante, daquilo que é mais
importante em minha vida.
Amo e respeito meu corpo, ele é minha morada sagrada, é ele
que me permite transitar pela minha existência. Mas acredito que amar e cuidar do
corpo seja diferente de transformá-lo em um “altar de idolatria”.
Espero um dia, então, ser lembrada como “a Carol, aquela
moça que valoriza a família/que gosta de comer boa comida/que faz aulas de
dança/que gosta bastante de ler”.
Que é feliz.