sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Então é Natal...



Dezembro é um mês de sentimentos intensos para muitas pessoas. Muito calor, o cansaço de todo um ano acumulado, perspectiva de férias/recesso à vista, correria para finalizar o que ficou por fazer, confraternizações mil, todos os lugares muito cheios, gastos extras...

“E como se não bastasse, ainda por cima tem a comida. Muita comida. Uma verdadeira esbórnia alimentar” (fala de uma paciente minha!).

Para muitas das pessoas que me procuram, a combinação de emoções intensas + oferta excessiva de comida resulta quase sempre num verdadeiro “pânico” das festas de final de ano, seguido de exageros alimentares descontrolados e exacerbação do sentimento de culpa ao comer.

Na tentativa de amenizar esse clima, deixo neste post – que é o último do ano, afinal também preciso descansar! – algumas sugestões e reflexões:

1.  Natal é comida. Mas não é só isso. Não é novidade que as festas de final de ano envolvem bastante comida gostosa e diferente. Mas qual o significado dessas festas para você? O que mais é importante nessas celebrações, além da comida? Rever a família e amigos? Repensar a vida? Aproximar-se dos rituais e tradições, como por exemplo decorar uma árvore, acender velas, preparar um presépio? Por mais que a comida possa parecer o foco para você, tente enxergar o contexto mais amplo e as outras oportunidades - de reflexão e convivência, por exemplo - que as festas trazem.

2. Na ceia, respire fundo antes de se servir. Coma normalmente ao longo do dia, não se convença de que “JÁ QUE é Natal, melhor comer pouco porque JÁ SEI que vou exagerar à noite”. Ao chegar na festa, respire fundo e permita-se ver o que será servido. Pense: quais pratos você está afim de saborear? Será que eles combinam entre si? Será que tem alguma coisa que você não queira tanto assim e que pode reservar para comer no dia seguinte? Será que tem coisas que você sabe que poderá comer outra hora e por isso não farão falta caso não coma hoje? Gosto do exemplo do panetone: ele está à venda desde outubro! E permanecerá à venda após o ano-novo, quando inclusive ficará mais barato! Você poderá comê-lo outra hora!

3. Se dê um presente: permita-se de verdade. Quando comemos algo com a sensação de que não deveríamos ter comido, e por isso sentimos culpa, não estamos nos permitindo verdadeiramente comer saboreando e sentindo alegria e prazer. Ficamos desconectados da comida. Isso prejudica a nossa noção de saciedade, tanto física quanto psicológica, e é por isso que quando comemos com culpa comemos mais. Sabemos que é comum comer um pouco mais no Natal e em outras festas comemorativas: a oferta de comida é maior, os pratos normalmente são diferentes do usual e bem gostosos... Mas que esse “comer mais” parta de uma decisão consciente de repetir aquele prato porque está muito gostoso, e não de uma decisão automática baseada no pensamento “já que comi o que não deveria mesmo, agora dane-se!”.

4. Exercite a autocompaixão. Natal é a época em que juntamos um dinheiro pra caixinha de Natal dos funcionários do prédio, montamos sacolinhas natalinas para crianças carentes, doamos cestas básicas... Tudo com muita compaixão e solidariedade, certo? Mas também é a época em que as pessoas mais se culpam e se “flagelam” por de repente comer duas fatias a mais de pudim na ceia. Que tal esse ano exercitar a autocompaixão? Se achar que exagerou ou comeu muito, e começarem a vir os pensamentos de autocrítica e julgamento, respire fundo e deixe-os ir embora. Você comeu a mais. Tudo bem. Isso acontece. Você não é uma pessoa pior por causa disso. Pode acreditar. 

5. “Nossa! Como você...” No Natal encontramos parentes distantes que muitas vezes têm algum comentário - nem sempre agradável - pra fazer sobre nossa aparência. Infelizmente, você não pode controlar o que os outros vão dizer, mas de certa forma pode controlar sua reação emocional àquilo que ouvir. Não leve para o pessoal. Pessoas que fazem comentários frequentes sobre aparência e peso provavelmente apresentem algum incômodo ou desconforto consigo próprias, e acabam projetando isso nos outros. Se começarem a falar de peso e corpo, não participe da conversa, vá tomar um ar, ou tente criar novos tópicos de conversa para poder mudar o assunto.

6. Não crie resoluções e metas impossíveis de ano novo. Especialmente em relação ao seu corpo.  É comum nesse período as pessoas mentalizarem ou escreverem suas resoluções para o ano que segue, e muitas vezes elas têm a ver com peso e corpo. Ex: "em 2015, farei academia cinco vezes na semana" - sendo que hoje a pessoa é sedentária. Ao criar uma meta muito distante e inatingível, gera-se uma sensação de ansiedade que acaba inclusive atrapalhando a sua concretização. Foque em metas mensuráveis e possíveis, e pense também em outras área s significativas de sua vida: trabalho, espiritualidade, família, amigos...

7. Se ligue no momento presente: foco no sabor instante a instante. Quando estiver comendo, dedique-se de fato a sentir o sabor, a textura, o aroma daquilo que está comendo. Desta forma, terá uma experiência alimentar mais completa e satisfatória. Muitas vezes, comemos pela memória, e não pelo gosto. Um exemplo prático: tem um panetone recheado de uma confeitaria perto de casa que eu adoro. Passei na frente do local esses dias e vi uma fila enorme, logo me lembrei dele e do quanto ele estava delicioso ano passado. Fiquei na fila, comprei o bendito e não via a hora de chegar em casa para poder comê-lo. Abri o pacote um pouco acelerada, já antecipando os momentos de prazer que teria. Dei as primeiras mordidas depressa, até que enfim! Lá pela quarta ou quinta mordida, passada a euforia inicial, comecei a de fato sentir o gosto, que era no fundo o que eu inicialmente queria... Qual não foi minha surpresa ao perceber que a massa havia mudado de sabor? Que o recheio estava ressecado e mais doce do que eu me lembrava? Ou seja: o panetone não estava agradável ao meu paladar, mas eu não pude prestar atenção logo de cara pois estava comendo pela memória, ainda tentando reviver aquela situação do ano passado! Assim que tive essa percepção, pude parar de comer. Ele não estava me dando o prazer sensorial que eu desejava.

8. Exercite a gratidão. Essa época é bastante simbólica: um ciclo terminando, outro que se inicia... Presença da família e amigos... A importância religiosa do Natal (para aqueles que acreditam)... Aproveite essa energia para exercitar sua gratidão. Tente se lembrar de todas as coisas boas que você possui e que te aconteceram nesse ano. Sinta um calor gostoso se espalhando pelo seu corpo... Você está vivo e é uma pessoa que merece respeito, amor, saúde e alegria. Não importa seu peso, sua cor ou aquilo que você come ou deixa de comer. 

BOAS FESTAS A TODOS E ATÉ O ANO QUE VEM!