terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Caderneta "O Corpo é Meu"!


E agora já estou munida pra rascunhar posts do blog a qualquer momento, assim que bater a inspiração... Graças à cortesia da Zocprint, que me mandou essa caderneta personalizada! A empresa é bem bacana, cria diversos produtos personalizados às suas necessidades ou de sua empresa. Vale a pena conferir o trabalho deles.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Chamar obesidade de doença é algo positivo?

Em junho de 2013, a Associação Médica Americana declarou oficialmente a obesidade como doença. Muitos profissionais de saúde foram a favor dessa decisão e dessa nomenclatura, acreditando que assim o estigma seria reduzido, já que o obeso seria visto como um doente, uma pessoa que tem um “problema" de saúde, e não um indivíduo com “pouco controle” ou “pouca força de vontade”. Além disso, esses profissionais enxergaram que dessa forma as pessoas se tornariam mais conscientes dos riscos de algumas complicações tipicamente associadas ao excesso de peso.

Entretanto, uma outra corrente de profissionais não foi favorável a esta decisão. Eles alegam que considerar a obesidade como uma doença poderia fazer com que os indivíduos se tornassem mais “acomodados” e fatalistas, eximindo-os (e eximindo também a sociedade) da responsabilidade por terem se tornado obesos. Nessa linha, um estudo recente publicado por duas psicólogas americanas encontrou que obesos que leram um material dizendo que a obesidade era uma doença relataram menor preocupação com o peso e escolheram uma opção mais calórica quando foi pedido para que escolhessem um sanduíche de um cardápio. Eles foram comparados com outro grupo de obesos, que leu um material dizendo que a obesidade NÃO era uma doença, e estes indivíduos escolheram sanduíches menos calóricos.

Agora vou dizer em que grupo estou. Em nenhum dos dois. Pelo menos não exatamente. Vou tentar explicar melhor.

Não sou particularmente a favor de nomear a obesidade como doença. Não porque eu ache que com isso as pessoas ficarão mais lenientes com sua alimentação, ou seja, ficarão mais “acomodadas”. Mas também não acho que chamar o obeso de “doente” reduz o estigma que ele tem na sociedade. Pelo contrário, minha opinião pessoal é de que isso só piora, já que você cria um estereótipo.

Além disso, me incomoda categorizar todo obeso como “doente”, pois dessa forma estaria fazendo uma generalização absurda. Afinal, existem obesos que comem bem, fazem exercício, adotam um bom estilo de vida, e portanto apresentam exames clínicos adequados (veja mais sobre obesos metabolicamente saudáveis aqui e aqui); sabe-se também que a obesidade pode diminuir o risco de mortalidade em algumas condições clínicas (veja aqui, aqui e aqui); o efeito que a obesidade tem na saúde também depende de onde a gordura está depositada no corpo, já que alguns depósitos de gordura são inclusive protetores à saúde (veja aqui e aqui); e, finalmente, devemos lembrar que as doenças que muitas vezes são associadas à obesidade – resistência à insulina, diabetes, câncer, hipertensão – nem sempre são causadas por ela, mas sim pelos mesmos fatores que contribuíram com a instalação da própria obesidade, isto é, um estilo de vida inadequado. Entenda-se: não é porque existe associação que existe correlação causal!

Mas mais importante do que categorizar ou não a obesidade como doença é a solução que estamos propondo para o “problema”: as dietas. Já escrevi alguns posts sobre isso (basta digitar a palavra “dieta” no buscador do lado direito do blog!) e tenho plena certeza de que elas só contribuem para que as pessoas engordem mais e mais. Chamar ou não a obesidade de doença é só a cereja do bolo de uma questão muito complexa que envolve toda a sociedade, e não só aqueles com peso a mais.

sábado, 15 de fevereiro de 2014

A culpa nossa de cada dia. Só que não.


Já escrevi alguns posts sobre os grandes benefícios da permissão alimentar e de comer sem culpa. A culpa vem da crença inicial de que determinado alimento é “proibido” e deveria ser excluído/evitado, e quando de fato acreditamos nisto estamos propensos a comer mais quando expostos a este mesmo alimento. Ativamos em nossa mente o famoso “já que”: “já que comi isso, então melhor enfiar o pé na jaca de uma vez!”. Ou seja: saber que você vai se sentir culpado ao comer aquele chocolate não reduz a chance de você comê-lo mesmo assim. E o que é ainda pior: quando você come com culpa, a vontade não passa.

Deixar de sentir culpa ao comer é um processo, não ocorre de uma hora para a outra. É necessário um esforço ativo para que isso aconteça, já que 99% das pessoas já se arrependeu de ter comido algo pelo menos uma vez na vida. Mas comer sem culpa é libertador. E é por isso que decidi escrever esse post com algumas sugestões de como neutralizar essa sensação:

1. Lute dia a dia contra a noção absurda de que existem alimentos proibidos.
Simples assim: se você acredita que não pode, terá mais vontade e obviamente sentirá culpa ao comer. Um único alimento não tem o poder mágico de te engordar (leia mais aqui).

2. Diga NÃO à moralização da comida.
Você não é uma pessoa:
pior
sem força de vontade
politicamente incorreta
malandra
indulgente
pecadora
gulosa
suja
sem-vergonha
safada porque comeu duas coxinhas com catupiry. Mesmo que sua consciência, seus amigos, sua família e o universo tentem te convencer do contrário.

3. Respeite os sinais físicos de seu corpo.
Tente se convencer de que é absolutamente normal e esperado comer quando se sente fome. Não parece justo sentir culpa por estar respeitando e cuidando das necessidades do seu corpo.

4. Não rejeite suas vontades.
Por mais que você deseje acordar amanhã odiando chocolate, isso provavelmente não vai acontecer. Então, conforme-se com o fato de que você está vivo e tem desejos! Isso não significa que você vai sair por aí comendo tudo a qualquer momento. A vontade real é bem específica, está relacionada com alguma memória alimentar positiva e não é urgente. Ou seja, “vontade de comer um doce” não basta: você precisa saber qual é o doce e pode programar o momento ideal para comê-lo (e não vale ser semana que vem se a vontade é hoje!). Coma devagar, apreciando. Valorize o momento.

5. Situe-se no contexto.
Se você topou ir à lanchonete com seus amigos, coma um lanche! Se todos estão fazendo, por que só você não pode? Não é todos os dias que você come isso, certo? Não peça a salada, a não ser que você de verdade a queira – o que é pouco provável nessa situação!

6. Analise a situação.
OK, você não acha que comer brigadeiro é proibido e você tem se esforçado para respeitar sua fome e suas vontades. Mas comer 30 brigadeiros sozinha em casa, na calada da noite, sem nem mesmo se dar conta do sabor que eles tinham... Aí já é demais! Mesmo assim, respire fundo. Tente entender qual foi a situação que te levou a isso. O que aconteceu no seu dia? Que sentimentos você vivenciou ou tentou camuflar? Por que esses sentimentos são tão difíceis pra você? Talvez o comer emocional fosse o único recurso disponível pra você naquele momento. Talvez você não soubesse como lidar com a situação de outro modo. Então, tente desenvolver a autocompaixão. Guarde seu chicote na gaveta e não se massacre. Fortaleça-se para que da próxima vez seja melhor. E com certeza será.


segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Eu gosto do meu corpo... E agora?


Outro dia ouvi de uma paciente a seguinte frase: “sabe, Carol... Depois de todo esse tempo, eu percebi que até que eu gosto do meu corpo...”

Por trás do alívio e serenidade que esse tipo de percepção traz, muitas vezes fica aquela sensação de dúvida, aquela “pulga atrás da orelha”: e agora?!

Pois é. Por incrível que pareça, algumas pessoas se sentem desconfortáveis estando mais satisfeitas com seu corpo. Isso pode acontecer por alguns motivos:

1. Você estará fugindo da norma.
Todos sabemos que a mídia e a indústria da beleza gastam bilhões tentando nos convencer de que devemos (e, mais cruel de tudo, de que é sempre possível) ser diferentes, nos tornar uma versão “melhorada” daquilo que já somos. Se você admite para si e para os outros que não se incomoda com seu culote, que tipo de mensagem estará passando? Talvez você se sinta arrogante... Afinal, se todo mundo é insatisfeito, que “direito” tenho eu de estar contente com meu corpo?!

2. Você se dará conta de outras insatisfações em sua vida. Quando você tira o corpo da equação e passa a prestar mais atenção em outras áreas da sua vida, isso pode ser extremamente desafiador e doloroso. Talvez você tenha passado muito tempo acreditando que o problema da sua existência resumia-se ao fato de você ter um corpo x ou y. Daí você percebe que o buraco é mais embaixo...

3. Você pode se sentir “negligente”. Como hoje em dia os cuidados com a saúde se confundem muito com o culto ao corpo, se você aceitar que tudo bem ser do jeito que é, parece que está “desistindo” de si mesmo. Mas o fato é que você pode se engajar em cuidados com sua saúde e bem-estar independentemente do corpo que tem ou que venha a ter.

4. Falar mal do corpo é um assunto “quente”. Bombardear nosso corpo e o corpo alheio com as mais duras críticas se tornou um tópico bastante presente em nosso convívio social. Existem amizades baseadas quase que inteiramente nisso! Isso significa que talvez você fique de fora de algumas rodas de conversa, assim como quem não assiste ao Big Brother...

Mas pensando bem, será mesmo que você queria fazer parte desse grupo?

sábado, 1 de fevereiro de 2014

A conduta e o processo terapêutico


Acabei de voltar do pronto socorro, pela segunda vez no dia, devido a uma reação alérgica por conta de um medicamento. Perrengues à parte, o dia de hoje me possibilitou a inspiração pra escrever esse post.

Continuo me impressionando com a falta de humanidade que ainda existe nos atendimentos de saúde, mesmo nos melhores estabelecimentos da cidade. Profissionais que não te cumprimentam adequadamente, nem mesmo um aperto de mão; que não se apresentam dizendo seu nome e que muitas vezes se assustam quando você pergunta; que não demonstram um olhar cuidadoso e empático... Parece uma linha de produção: sintoma  conduta  dispensa. Próximo!

Não estou aqui me referindo somente a médicos, vejam bem. Me coloco nesse balaio: médicos, enfermeiros, nutricionistas, fisioterapeutas... Entendo que o sistema de saúde no Brasil ainda tem muitas falhas: profissionais que trabalham muito e ganham pouco, faculdades e universidades de cursos da área da saúde que deixam e desejar no ensino da ética/humanização... Mas o negócio é o seguinte: os pacientes não tem culpa disso.

Acredito que nós, como profissionais de saúde, precisamos nos convencer cada vez mais de que o processo terapêutico é tão importante quanto a conduta (como coloca o psiquiatra e psicanalista Irvin Yalom em seu livro “Desafios da terapia”, que eu fortemente recomendo). No caso da nutrição, por exemplo, precisamos nos esforçar para criar um bom vínculo com o paciente, vínculo este que depende de não-julgamento, empatia, acolhimento, escuta ativa e compaixão. Precisamos buscar um entendimento maior sobre por que e como as pessoas comem, e não só o que e quanto. Quais suas motivações para se alimentar – ou não se alimentar, em alguns casos! – e como os aspectos emocionais de sua vida interferem na sua alimentação.

Sob meu ponto de vista, muitas vezes é isso que os pacientes precisam que façamos por eles.