quarta-feira, 13 de maio de 2015

Primum non nocere: um desabafo.



Na minha graduação em Nutrição, tive uma disciplina chamada Bioética. A Bioética é o estudo das implicações morais e éticas que surgem quando se trabalha com a saúde dos seres humanos. Lembro que as aulas costumavam ser polêmicas e por vezes consideradas “chatas”. Costumávamos pensar: “nossa, eu tenho bom senso, eu sei agir com ética, não preciso estudar sobre isso...”

Será que não?

Um dos princípios da bioética é aquele derivado do termo em latim do título ("primum non nocere"), ou do conhecido termo em inglês “first do no harm”: é o princípio da não maleficência. Ele propõe que o profissional não deve inflingir dano intencional ao seu paciente. Ou seja, se não puder fazer o bem, pelo menos não faça mal. Parece óbvio, mas acho que nos perdemos ao longo do caminho.

Quando colegas nutricionistas (nem vou aqui entrar no mérito de blogueiros e perpetuadores da pseudociência) vinculam seu trabalho a esse tipo de imagem acima nas redes sociais, acredito que de certa forma eles estejam infringindo o princípio da não maleficência. É claro o desespero do bonequinho ao se dar conta de que ele estava “quebrando” a dieta, comendo algo “proibido”. Qual a resposta a isso? Cuspir. Essa ilustração, na minha opinião, só incentiva a neurose alimentar em que estamos vivendo e os comportamentos e atitudes transtornados na nossa relação com a comida. 

Tenho pacientes com transtorno alimentar que fazem justamente isso quando querem purgar, ou seja, compensar algo que comeram e que acreditam que não deveriam: eles cospem, vomitam. E sofrem com isso, pois têm uma doença que os leva a agir dessa maneira. E muitas vezes, um dos gatilhos para o surgimento de transtornos alimentares são imagens como essas, que quando publicadas por profissionais de saúde adquirem peso maior.


Nós, profissionais de saúde, temos que nos dar conta do potencial influenciador que temos sobre os indivíduos quando vamos passar uma mensagem. E temos que tomar cuidado para que elas não contenham em si potencial danoso sobre alguns indivíduos potencialmente sugestionáveis.