segunda-feira, 28 de julho de 2014

O que é beleza para você?

Tenho achado muito interessante refletir e estudar sobre como é construída a noção que temos do que é belo ou não para nós. Ou seja: porque olhamos para determinadas coisas/pessoas e obtemos aquela reação agradável e prazerosa que nos diz: “hum, isso eu acho bonito”.

Como diz o ditado, “a beleza está nos olhos de quem vê”, isto é, aparentemente é algo subjetivo que muda de pessoa para pessoa e que muda de tempos em tempos. Entretanto, em todas as épocas, existem padrões de beleza que são construídos com base em questões políticas e culturais e que determinam o que uma grande maioria acha belo. Muitos já ouviram falar, por exemplo, que na Antiguidade e na Idade Média era visto como belo o corpo curvilíneo, que hoje chamaríamos de “cheinho” ou mesmo de “gordo”. Quando viajei para Nova Iorque esse ano, para a Conferência Internacional de Transtornos Alimentares da AED, não pude deixar de tirar a foto abaixo no Metropolitan Museum of Art, retratando o corpo valorizado na Antigo Egito.


Trazendo para um período mais atual, sabe-se que nos anos 60, com o crescimento do movimento feminista, começou a surgir um novo padrão de beleza para o corpo feminino: o corpo magro, andrógino, que buscava ser mais semelhante ao do homem (ao menos na aparência), representado pela modelo Twiggy.


Esse novo corpo que passou a ser valorizado foi uma reação do movimento feminista ao padrão curvilíneo e sensualizado que vigorava, basta lembrar de Marilyn Monroe. Ironicamente, o corpo magro que tinha como objetivo “libertar” a mulher do estereótipo de sex symbol vem sendo usado atualmente para "aprisioná-la" no mundo das dietas e dos transtornos alimentares...


Padrões de beleza sempre vão existir, pois muita gente lucra horrores com eles; basta ver as inúmeras indústrias da dieta e da beleza hoje em dia, que ganham com a nossa insatisfação vendendo a “solução” para nossos problemas: um novo shake, uma nova dieta, uma nova cinta, uma nova maquiagem...

Não estou questionando qual padrão é melhor ou pior, apenas refletindo se não podemos nos abrir para valorizar a beleza que cada um traz consigo. Nosso olhar para o belo depende muitas vezes do quanto nos abrimos para o que é diferente e do quanto nos abrimos para questionar e criticar o padrão que criamos em nossa mente. Enxergar algo como belo não é simplesmente "natural", depende de um esforço ativo da nossa parte para aceitar que as pessoas podem se tornar belas por aquilo que representam em nossas vidas (vejam esse belo texto) e pela maneira como expressam toda sua potencialidade por onde quer que passem. Quantas vezes já não ouvimos a seguinte frase: “aquele/a moço/a é bem bonito/a, mas é tão chato/a...”? E quantas vezes, ao acordarmos de bem com a vida pela manhã, não ficamos “surpresos” por nos acharmos mais bonitos, enquanto que naqueles dias em que desejamos nem termos levantado da cama não podemos nem passar diante do espelho?

É por isso que a minha resposta para o título deste post é a seguinte: beleza, para mim, é um estado de espírito.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Meu amigo chocolate e o brigadeiro de whey protein


Tenho muita curiosidade em entender porque as pessoas comem o que comem. Não só as razões que motivam a busca pela comida – fome, tédio, raiva, tristeza, frio, alegria, rotina, e tantas outras –, mas também as razões que determinam a escolha alimentar em si: por que, por exemplo, escolho comer ovo ou batata frita ou chocolate?

Como já abordado em outros posts, existem vários fatores que influenciam nosso “apetite” específico por determinados alimentos. Um dos gatilhos é justamente a restrição: se acredito que não devo/não posso comer algo, certamente a chance de eu buscar esse alimento num futuro próximo é alta. Quando eu me proíbo de comer um determinado alimento, é como se ele assumisse uma “aura mágica”: ele passa a ser mais atrativo, mais desejado, mais gostoso...

Vamos citar o exemplo do chocolate. Eu consigo entender porque a maioria das pessoas busca e gosta de chocolate, mesmo as que não restringem. Ele tem uma textura agradável, e seu derretimento na boca causa uma sensação confortável e prazerosa. O gosto é atrativo, graças à mistura de leite, açúcar a cacau. Visualmente ele chama a atenção, e não precisa adotar o disfarce do “saudável” para as pessoas gostarem dele (como as barrinhas de cereal, diga-se de passagem!). O chocolate é autêntico.

Eu adoro chocolate. Mas não é por isso que vou trocar uma refeição e matar minha fome com ele.

Agora, vamos citar o exemplo de um alimento que tenho visto muito por aí: o “brigadeiro de whey protein”. Não quero aqui julgar quem o come, mas a pergunta não cala em minha mente: POR QUE?

Qual o objetivo de se colocar um suplemento alimentar com finalidades bastante específicas num alimento que foi criado para saciar vontade? Será que as pessoas de fato estão tentando atingir sua cota diária de proteína por meio dele? Será que elas acreditam que terão menos vontade de comer doce caso consumam whey protein no brigadeiro? Será que elas julgam que ele faz bem? Será que é pelo gosto?

Bem, isto eu duvido.

domingo, 13 de julho de 2014

Sobre "gordices"


Nessa época de Copa do Mundo, não foram poucas as vezes em que ouvi pacientes, amigos e familiares comentando e postando fotos em redes sociais sobres as “gordices” consumidas. “Gordices” é um termo que refere-se, de modo geral, a tudo aquilo que as pessoas comem acreditando que não deveriam estar comendo. Outros termos similares são “gulodices”, “porcarias”, “besteiras”.

Eu particularmente não gosto e procuro não utilizar nenhum desses termos, pois todos implicam em um julgamento moral daquilo que comemos. Mas me incomoda de forma especial a palavra “gordice”.

“Gordice” perpetua o estigma da obesidade, já que passa a ideia errônea e inadequada de que só gordos comem determinados tipos de alimentos. Será mesmo que só gordos comem chocolate/brigadeiro/pão francês/coxinha? E se esses alimentos são “gordices”, alface, por exemplo, é o que? “Magrice”? E só magros comem alface??

Além disso, quando alguém diz que comeu uma “gordice”, ele está querendo dizer que cometeu uma “indulgência”, que comeu algo “proibido”; e quando algo é proibido, se torna mais desejável, se torna uma transgressão... E quem é que não gosta de uma transgressão?!

Ou seja: se você se refere a um alimento como “gordice”, pode ter certeza de que a chance de você ter mais vontade de comê-lo aumenta. Assim como a culpa que vem ao comer, e que impede que você de fato sinta prazer comendo.

Proponho um exercício: tente se monitorar e perceber quantas vezes você pensa e utiliza a palavra “gordice” em sua rotina. Tente deixá-la de lado, tente aceitar que o que você está comendo é apenas um chocolate (uma torta, uma batata frita, um pastel...).Esse é um dos passos para que você consiga de fato melhorar sua relação com a comida.

Boa semana a todos!

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Em paz com o corpo


O texto de hoje foi retirado da edição de julho/2014 da revista Vida Simples. Foi escrito por Lucas Tauil de Freitas. Mostra uma outra maneira de visualizarmos e vivenciarmos o corpo, com base em sua funcionalidade e nos detalhes (por vezes banais) que trazem significado para nossas vidas.

Boa semana!

"Cresci um menino capacete. Apesar da infância no interior, vivia dentro de casa, assistia TV demais e me movimentava pouco, bem pouco. Foi já moço que fiz as pazes com o corpo. Descobri meu caminhar no grupo de teatro da faculdade. Ainda me divirto ao lembrar da cara de surpresa com que ouvi que não sabia andar. Depois vieram os ensinamentos de como respirar por meio da ioga. A prática foi um encontro com o fluxo e o movimento consciente. A libertação da vaidade e da patrulha estética demorou mais, mas veio também. Porém, foi o mar que selou meu amor com a pele que me comporta. Encontro dos ambientes dos meus sonhos.

Braços fortes que puxam cabos e sobem as velas que nos impulsionam. Mãos hábeis que amassam nosso pão e remam para as praias do nosso caminho, que agarram a corrente que nos mantêm seguros na ancoragem. Dedos precisos que tecem e consertam de tudo. Pernas que me levam de lá para cá, que me permitem a alegria de deslizar sobre uma onda. Peito largo que me dá a plenitude do abraço de minhas filhas, que acolhe minha companheira nas noites frias.

Sentidos meus, lapidados na natureza. Olhos que se aguçam no horizonte amplo do oceano e nos movimentos focados da ioga. Ouvidos que despertam para o silêncio e também para os sons ritmados do navegar. Pele que sente o vento. Paladar que se perde em beijos lentos, e também encontra os sabores estrangeiros e picantes na estrada. Cheiro de sal e desejo, faro fiel que me guia pacato, imperceptível. Respirar que silencia minha mente inquieta. Sentido outro que me faz ver além da carne, que desdobra o sólido em milagre.

Frágil e mágico, corpo que é minha ponte para este mundo. Igreja onde vive o divino em mim. Meu corpo amigo, que todas as manhãs hidrato com lentos copos de água e estico em dedicadas posturas de ioga. Eu físico que senta em silêncio, que escuta e não pede. Minha carne nutrida com alimentos que me fazem bem e pensamentos serenos, fundação da minha alma e dos meus mais variados desejos. Corpo que é o veículo da minha expressão, ferramenta e matéria-prima da minha arte. Caminho do meu querer.

Presença minha na comunidade. Mãos que não apenas oram, mas cuidam de mim mesmo e do outro.

Meu habitat que não é tudo o que sou, mas é portal da minha alma, carregador de meus olhos. Meu corpo que encontra outro corpo, canal do encontro dos nossos seres. Viva a carne, viva a pele, viva a alma."