quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Nova escala avalia influência do comportamento dos pais sobre a alimentação dos filhos


É com muito orgulho que hoje vou escrever sobre os achados da pesquisa desenvolvida e publicada pela minha querida amiga Maria Luiza Petty, nutricionista e gastrônoma, na renomada revista científica Appetite.

A Malu pesquisou a influência que o comportamento dos pais durante as refeições com seus filhos tem sobre o consumo alimentar dessas crianças, que na amostra do estudo tinham entre 6 e 10 anos de idade. Este comportamento dos pais foi avaliado por meio de uma escala que ela traduziu e validou cientificamente, que contém afirmativas do tipo: “você impõe limite de quantos salgadinhos a criança pode comer por dia”; “você come vegetais todos os dias”; “você deixa a criança comer o que ela quiser”. Os pais poderiam responder a cada frase marcando “nunca”, às vezes” e “sempre”.

O estudo encontrou que o consumo de frutas, legumes e verduras (FLV) foi maior entre as meninas e que o consumo de lanches (exs: hambúrgueres, hot dogs) e “comida de cafeteria” (ex: croissants) foi maior entre os meninos. Percebeu-se também que os pais das crianças que comiam mais FLV raramente ofereciam a elas uma refeição diferente daquela consumida pela família, ou seja, não cediam aos “caprichos” dos filhos (ex: “não quer almoçar? Come salgadinho então, já que você gosta...”). Além disso, os pais dessas crianças normalmente disponibilizavam em casa FLV e davam um bom exemplo consumindo esses alimentos. Outro dado interessante é que os pais das crianças que comiam doces com mais frequência restringiam de forma mais rígida a alimentação dos filhos e disponibilizavam comidas com teor reduzido de gordura.

Concluindo, a pesquisa mostra que é importante tornar disponíveis frutas, legumes e verduras, bem como comidas gostosas preparadas com esses alimentos. É necessário também impor limites às crianças, especialmente no que se refere às refeições, sem no entanto restringir de forma rígida o consumo de alimentos como doces, salgadinhos e lanches.

sábado, 12 de janeiro de 2013

Disney mostra fada gordinha em seu novo filme!

Uma notícia positiva na luta contra o estigma da obesidade! A Disney, que já comeu bola ao criar personagens que incentivam o preconceito contra pessoas obesas (veja aqui), colocou no recente “O segredo das fadas” (filme com a fada Sininho que passou em 2012 nos cinemas nacionais) uma personagem “gorda”, ou pelo menos fora dos padrões estéticos esperados para uma fada. Mary (de rosa na imagem abaixo) é uma bela e talentosa patinadora que deixa todos boquiabertos com suas habilidades no gelo. Vejam o vídeo dela patinando aqui.


Pais e parentes, uma ótima oportunidade para conversar sobre o tema com as crianças e mostrar que pessoas gordas também podem ser atléticas e se divertir fazendo uma atividade física!

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Considerações sobre o estudo “Look AHEAD”


O ensaio clínico randomizado “Look AHEAD” (“Action for Health in Diabetes”), idealizado no final dos anos 90 e com duração de 13 anos, teve como objetivo principal avaliar os efeitos de um programa intensivo de mudanças no estilo de vida na perda de peso de indivíduos diabéticos do tipo 2 com excesso de peso (mais de 4.000 sujeitos). Esse programa intensivo consistiu na prática de atividades físicas (175 minutos/semana) e dieta (1200 a 1800kca/dia), e os indivíduos do grupo controle passaram por um programa convencional de educação em diabetes. O rigoroso protocolo de pesquisa do ensaio clínico, contendo 113 páginas, pode ser lido aqui.

Hoje, ao final do estudo (alguns artigos ainda estão sendo publicados), os achados principais são os seguintes:

- os indivíduos que passaram pela intervenção (dieta rigorosa + atividade física) foram capazes de perder 5% de seu peso inicial e manter essa perda por 4 anos (o que hoje é considerado sucesso na perda de peso).

- independentemente da perda de peso, já que o grupo controle também apresentou benefícios, as mudanças no estilo de vida trouxeram vários pontos positivos aos participantes: redução de apneia do sono e da necessidade de medicação para o diabetes, melhora nos níveis de alguns exames (glicemia, hemoglobina glicada, colestertol) e na qualidade de vida como um todo.

- finalmente, apesar da perda e manutenção de peso por 4 anos, o estudo não alcançou o principal resultado esperado pelos pesquisadores: redução na ocorrência de derrames, ataques cardíacos ou morte por eventos cardiovasculares (mesmo com a melhora nos parâmetros bioquímicos relacionados com a ocorrência desses eventos).

Meu medo agora é que os pesquisadores encarem o “copo meio vazio”, ou seja: “5% de perda de peso não foi o suficiente? E se os participantes de um próximo estudo fizerem uma dieta MAIS restritiva ainda para perderem MAIS peso? Aí sim!”

O que precisamos nos lembrar é que já houve definições mais rigorosas em outras épocas para o que seria considerado uma “perda de peso de sucesso” (20% dos peso inicial, por exemplo), só que o problema é que de sucesso não havia nada! Os indivídos não conseguiam perder tanto peso e mantê-lo a longo prazo.

Talvez precisemos encarar o “copo meio cheio”, ou seja: uma perda de peso modesta (5% do peso inicial), ou mesmo mudanças no estilo de vida sem que haja necessariamente perda de peso, podem trazer vários benefícios à saúde, inclusive melhorias em alguns fatores de risco para doenças cardiovasculares (glicemia elevada, colesterol elevado).

Bom início de ano a todos!