domingo, 28 de julho de 2013

Deixem Kate em paz!

Esta semana fiquei indignada com um comentário que li no Facebook, que dizia mais ou menos assim:

"Nossa, já faz quatro dias que a princesa (Kate Middleton) teve o nenê e ela ainda está gordinha??" (em referência à foto abaixo)


Indignação número 1: a mulher tem uma gestação de nove meses, repleta de modificações hormonais e estruturais para gerar um bebê, e espera-se que em quatro dias seu corpo já tenha voltado ao normal? De verdade?

Indignação número 2: gordinha??? Onde???

Mas já era de se esperar comentários desse tipo. A indústria da dieta é tão perspicaz que é capaz de convencer mulheres que o principal benefício da amamentação é gastar calorias, e não estabelecer um vínculo forte e saudável com seu filho; é capaz de fazer as novas mamães acreditarem na promessa de que não importa o quão modificada e confusa vai se tornar a vida delas a partir de agora; não importa o quão sobrecarregadas e desconectadas do seu próprio corpo elas se sentirão: tudo será resolvido se pelo menos elas puderem "consertar" seus corpos.

Precisamos ter em mente que nosso corpo é um reflexo das nossas vivências, e que saber respeitá-lo é saber entender e aceitar nossa história de vida.

Precisamos refletir se nossos pensamentos a respeito de corpo e peso estão ocupando boa parte do nosso tempo e se estão mobilizando boa parte de nossos esforços. Afinal, existem coisas maiores e mais importantes.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Não comprem cookies dos escoteiros!


O tradicional grupo dos escoteiros americanos, conhecidos por pregar os valores de “boa conduta, respeito pelos demais e honestidade” (esse texto foi retirado do site oficial do Boy Scouts of America), acabou de se contradizer ao discriminar crianças obesas. Isso porque eles impediram aquelas com IMC acima de 40kg/m² a participarem de um acampamento nacional que começou hoje, chamado de Jamboree. Ou seja: não importa se seu filho joga futebol, faz parte do time de luta e natação da escola, e se nos últimos dois meses ele caminhou todos os dias por duas horas carregando uma mochila de 20kg para aumentar seu condicionamento (depoimento de uma mãe americana sobre seu filho obeso, que se candidatou ao acampamento); se a criança é gorda, isso define suas oportunidades dentro do grupo dos escoteiros.

Já foi demonstrado num outro post (e também nesta revisão científica) os diversos malefícios à saúde gerados pelo estigma e preconceito da obesidade: depressão, ansiedade, insatisfação corporal, tendências suicidas, comportamentos alimentares transtornados... Agora, imaginem o que significa para uma criança ser excluída de uma atividade em grupo (e sofrer bullying, claro) simplesmente por ser gorda. Qual a dimensão que isso vai assumir em sua vida? Será que ela vai ter uma relação saudável com seu peso e com seu corpo depois disso? Acho difícil.

Portanto, escoteiros: não venham bater na minha porta. Não vou comprar cookies de vocês.

sábado, 13 de julho de 2013

Participante de reality show é processada por ganhar peso


A americana Tara Costa, ex-participante do reality show "The Biggest Loser", está sendo processada por ter ganhado 20 dos 70kg que ela perdeu em 2009 no programa. Para quem não sabe, neste programa alguns obesos ficam confinados numa casa e passam o dia todo fazendo exercício, comendo pouco e se engajando em mil loucuras para ver quem perde mais peso, precipitando inclusive casos de transtorno alimentar.

A empresa "FC Online Marketing", de quem Tara é garota-propaganda, alega que a moça desrespeitou a cláusula que diz que ela teria que manter seu nível de fitness e condicionamento durante a vigência do contrato.

Existem dois problemas nisso tudo:

1. Ter condicionamento físico e manter um certo grau de fitness independe de peso. Prova disso são os estudos com obesos metabolicamente saudáveis (veja aqui) e a existência de atletas olímpicos gordos (veja aqui).

2. Já é mais do que comprovado pela ciência que perder muito peso, de forma rápida, e sem adotar mudanças de estilo de vida sustentáveis é garantia certa de reganho de peso, graças às mudanças fisiológicas e psicológicas que ocorrem em nosso corpo diante dessas situações: maior liberação dos hormônios de fome, maior salivação, maior síntese de gordura pelas nossas células de armazenamento (adipócitos), pensamentos obsessivos sobre comida... (vejam este estudo super interessante sobre o tema).

Ahh, os americanos e sua "queda" por processos incabíveis...

segunda-feira, 1 de julho de 2013

“Eu sou uma porca gorda”



“Eu sou uma porca gorda”. “Minha barriga tem tantas dobras que eu poderia esconder criancinhas nelas”. Infelizmente, é comum na minha prática ouvir pacientes (especialmente mulheres) tratando seus corpos com desprezo ou até mesmo de forma pejorativa, usando por exemplo as frases acima. Apesar de fofa a imagem do animalzinho, minhas pacientes em nada se parecem com ele.

Esse tipo de linguajar usado para ofender seu próprio corpo ou o corpo das outras pessoas é chamado em inglês de fat talk, apesar de muitas vezes não se relacionar só com gordura (um paciente homem já disse por exemplo: "estou tão 'frango' que pareço um aidético", referindo-se ao seu descontentamento com o volume de massa muscular em seu corpo). E o fat talk é extremamente perigoso, apesar de parecer para alguns inofensivo ou até mesmo engraçado.

Em primeiro lugar, é perigoso porque quanto mais você se agride, mais aumenta sua insatisfação corporal (isto é comprovado inclusive por estudos). E quanto mais insatisfeito você está consigo mesmo, menor a probabilidade de você se engajar em seu autocuidado (veja aqui). Além disso, fat talk é como um dominó: você começa se denegrindo, a pessoa ao seu lado vai começar a se denegrir também (“você, gorda suja? E a minha barriga então!”) e logo menos vocês estarão “brigando” para ver quem se odeia mais.

Em segundo lugar, é perigoso porque focar-se nos aspectos negativos de seu corpo normalmente funciona como uma distração de outros aspectos de sua vida que não estão te agradando, ou mesmo como uma fuga de sentimentos difíceis. E se você não se focar no que de fato está te incomodando (seu emprego é um saco, você se sente carente, um amigo querido mudou de cidade), você não será capaz de enfrentar a situação e se sentir melhor.

Portanto, aí vai uma sugestão: tente se tratar com mais respeito! Você é muito mais do que sua aparência! Pense no que você diria sobre si mesmo caso fosse proibido falar sobre seu corpo. O que você tem a oferecer de positivo?


Boa semana a todos!