segunda-feira, 26 de agosto de 2013

“Querido, você está ótimo assim...”


“Mas quando perder peso ficará melhor ainda.”

Isso foi o que ouvi da esposa de um paciente que estava em acompanhamento para cirurgia bariátrica. Apesar de desrespeitoso e absurdo, esse tipo de “encorajamento” para que o parceiro/a emagreça e faça dieta é muito comum. Os comentários podem até ser bem-intencionados, mas como diz o ditado, de boas intenções o inferno está cheio.

Digo isso porque uma pesquisa recente da Universidade de Minnesota com 1300 jovens em relacionamentos amorosos (20 a 31 anos) encontrou que 40% deles havia se engajado em comportamentos extremos de dieta no último ano, e a presença de compulsão alimentar dentre as mulheres que foram encorajadas a fazer dieta era duas vezes maior que nas demais mulheres. Em relação aos homens, a presença de compulsão naqueles incentivados a fazerem dieta foi três vezes maior. E o pior: metade dos homens e mulheres apresentavam peso normal ou baixo peso, e ainda assim metade relatou que seu parceiro/a incentivava a prática de dietas.

Por que a presença de compulsão é maior naqueles incentivados a fazerem dieta? Uma das razões é bastante simples: comentários negativos sobre peso vindos de uma pessoa importante e amada tendem a aumentar a ansiedade com o corpo e a comida, contribuindo para uma pior imagem corporal e autoestima, além de incentivas atitudes alimentares inadequadas.

Quer ajudar seu parceiro/a? Então, incentive os cuidados com a saúde, sem focar no peso. Convide-o/a para fazer uma caminhada com você. Melhore seu hábito alimentar. Talvez ele ou ela siga seu exemplo.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

"Se eu fosse ouvir todas as minhas vontades..."


Semana passada, eu escrevi sobre ouvirmos mais o nosso corpo e as nossas vontades. O que para mim faz todo o sentido: nosso corpo é tão inteligente que ele nos diz exatamente quando devemos comer (por meio dos sinais de fome) e o que queremos comer (por meio do nosso apetite e das nossas vontades). Entretanto, recebi alguns comentários ao texto dizendo mais ou menos o seguinte: “se eu fosse ouvir todas as minhas vontades... o que seria de mim?!”

Daí eu percebi que não me expressei muito bem. O que eu de verdade quero dizer é: nosso corpo é muito inteligente e nos diz quando devemos comer e o que queremos comer, contanto que:

1. Eu cuide bem do meu corpo e me permita conectar-se com ele. Isso envolve:
- não fazer dietas/restrições sem sentido
- comer quando sentir fome e parar quando estiver satisfeito, aceitando que comer um pouco a mais de vez em quando porque a comida está muito gostosa é perfeitamente aceitável
- experimentar alimentos sempre que possível para expandir os gostos alimentares
- dormir bem (a produção dos hormônios de fome e saciedade sofrem interferência do nosso padrão de sono!)
- manejar o estresse (o cortisol, hormônio do estresse, aumenta nossa fome)
- acordar cedo para fazer um exercício físico prazeroso, se esse é o único horário disponível, mas aceitar dormir de vem em quando até mais tarde porque se está muito cansado
- respeitar o corpo e suas limitações, enxergando que talvez ele não seja aquilo que se deseja, mas que ainda assim possui muitas qualidades e potenciais

2. Eu assuma uma postura neutra diante dos alimentos. Essa parte hoje em dia é mais difícil. As pessoas acham que se comerem tudo o que têm vontade vão perder o controle, escolher sempre os alimentos “proibidos”. Mas isso só vai acontecer se de fato existirem alimentos “proibidos”! Se você assumir que é ok comer chocolate, sem sentir culpa, acredite: você não vai sentir vontade de comer chocolate sem parar, todos os dias, a todo momento. Mas para isso você de fato precisa neutralizar o chocolate em sua vida.

Que tal agora trabalharmos todos esses aspectos?

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

“Escolhas inteligentes”... Será?


É comum esbarrar com esse tipo de figura por aí. Algumas delas de fato trazem opções interessantes e mostram que calorias não definem qualidade alimentar. Mas o grande problema delas, na minha opinião, é assumir que as escolhas são de fato iguais. Que comer um sanduíche de espinafre quando se está com vontade de comer um de mortadela dá na mesma.

Vou ilustrar com uma história verídica.

Saindo do consultório semana passada, resolvi passar na Kopenhagen pra tomar o famoso capuccino da loja. Já no caminho, estava antecipando o prazer que seria tomar algo quente e gostoso naquele final de tarde frio. Ao entrar, só havia eu e mais duas clientes, sentadas juntas. Uma delas pediu um café com leite grande, despejou dois saquinhos de adoçante e não parava de olhar meu capuccino, enquanto discutia com sua colega sobre o novo peeling que faria semana seguinte: será que vou ficar bonita mesmo, será que vou descascar muito, poderei usar base ou a pele ficará irritada, etc.

E ela era linda. De verdade. Pelo menos na minha opinião.

Acabamos nos dirigindo juntas ao caixa e a vendedora ofereceu a ela uma barrinha de chocolate ao leite que estava na promoção. A moça olhou para a amiga, como se buscando aprovação, e com um suspiro acabou aceitando.

Na minha cabeça, supus que desde o início a garota gostaria de ter escolhido o capuccino, mas tentou se satisfazer com o café com leite e adoçante. No fim das contas, acabou comendo o chocolate.

Ela tentou fazer uma “escolha inteligente”. Mas será mesmo? Será que conseguimos burlar nossas vontades ou elas dão um jeito de nos pegar desprevenidos depois?

Que tal ouvirmos mais o nosso corpo?

Uma boa semana a todos!

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Nuvem negra num céu azul


É comum receber “super-pacientes” em meu consultório. E aqui me refiro especialmente a mulheres que trabalham longas horas, cuidam de casa e dos filhos, cozinham para o marido e que precisam estar em dia com seu autocuidado: fazendo exercício regular, comendo direito todos os dias e, claro... “Precisam” ser magras.

O fato é que é impossível fazer tudo isso de forma impecável, sem deixar a peteca cair em uma dessas áreas da vida. Essas mulheres assumem que é possível “ter tudo” e não precisar fazer escolhas, definir prioridades. E isso não é diferente com a alimentação: elas chegam ávidas por um “cardápio”, uma lista do que comer e do que não comer.

A questão é que essa escolha não cabe a mim. A liberdade de escolha é individual. Eu posso sim sugerir opções, mas dentro de um contexto, uma situação. Pra mim é muito mais válido entender quando, como e por que a pessoa está comendo do que simplesmente o que.

Se você tem a sensação de que está sempre em dívida com você mesma, cuidado: esse tipo de pensamento é como uma nuvem negra que a impede de enxergar o céu azul.

Tente pensar nas coisas boas que você tem e que já conquistou, graças às suas competências e valores pessoais. Avalie como aquilo que já está bom em sua vida pode te aproximar do que ainda falta conseguir.

Seja flexível. Ou seja: se quiser, faça pilates três vezes na semana, mas não se cobre excessivamente ou se critique caso escolha faltar às vezes porque ficou até tarde na festa da noite anterior; coma salada de chia (se gostar), mas quando for à lanchonete de vez em quando permita-se pedir um cheese bacon com milk shake; guarde dinheiro para fazer botox se você acha que com isso ficará mais bonita, mas reflita se não é melhor usar esse dinheiro para fazer uma viagem nas férias e relaxar.