quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

"Não existe gordinho saudável"... Será?


A reportagem da revista Veja de 11/12/13, entitulada “Não existe gordinho saudável”, foi categórica: é impossível existir pessoas com sobrepeso e obesidade saudáveis. E ponto final. Além de desconsiderar diversos outros estudos que trouxeram evidências contrárias, alguns já citados no blog (veja aqui e aqui), a revista não trouxe uma análise detalhada e crítica do estudo em que se baseou para fazer tal afirmação.

A reportagem coloca que, segundo a meta-análise em questão, pessoas gordas ou magras que apresentam pressão alta, resistência à insulina e colesterol elevado (ou seja, alterações metabólicas) apresentam maior risco de doenças cardiovasculares. Isso já é sabido e esperado. Mas diz ainda que pessoas gordas sem essas alterações de qualquer modo apresentam maior risco que pessoas magras também sem alterações... Simplesmente por serem gordas! A lógica disso é no mínimo duvidosa. Os autores do estudo justificam que esse maior risco seria pelo fato dos marcadores analisados (pressão sanguínea, colesterol) estarem ligeiramente alterados nas pessoas gordas, mesmo ainda estando dentro dos limites aceitados como normais.

Quando se lê o estudo na íntegra, entretanto, algumas coisas são esclarecidas:

1.Pessoas magras com alterações metabólicas apresentam risco de 3,14 de terem algum problema/evento cardiovascular, ou seja, uma chance 214% maior do que pessoas sem alterações metabólicas. Já pessoas gordas com essas alterações apresentam risco de 2,65. Ou seja, o risco de pessoas gordas com alterações metabólicas foi menor do que o risco de pessoas magras com as mesmas alterações!

2.Pessoas magras ou gordas sem alterações metabólicas: o risco de algum evento cardiovascular entre essas pessoas é bem semelhante, sendo que em pessoas com sobrepeso o risco é 1,21 e em pessoas com obesidade o risco é 1,24. Alguns hão de argumentar: ainda assim, 1,21 é maior que 1, ou seja, o risco é maior! Mas mandar a pessoa fazer dieta, o que provavelmente vai levar ao “efeito sanfona”, pode resultar nas alterações metabólicas que levam ao grande aumento do risco independentemente do peso!!!

Ou seja: o grande problema são as alterações metabólicas, quer a pessoa seja magra ou gorda! Mas os autores do estudo (e a revista nacional) optaram por ressaltar somente uma faceta do estudo...

Não estou dizendo aqui que todo gordo é saudável, mas quero deixar explicitado que nem todo magro também o é, apesar da crença popular. O que quero de fato transmitir é que qualquer pessoa tem o potencial de se tornar saudável independentemente de seu peso, contato que se invista em mudanças de comportamentos e de estilo de vida.

E se mesmo assim algumas pessoas quiserem argumentar que é impossível estar gordo e ser saudável, vamos então tentar eliminar fatores que estão claramente contribuindo para piorar a saúde dos obesos, como por exemplo o estigma da obesidade, inclusive entre profissionais de saúde (este assunto já foi tratado no blog, leia aqui).

Este é o último post do ano! Até janeiro e boas festas!

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Como aproveitar melhor as festas de fim de ano


Eu adoro as festas de final de ano. Momento de antecipar as coisas boas que estão por vir no ano seguinte, rever o que aconteceu de importante nesse ano que passou, reencontrar familiares e amigos queridos... E estar na presença da comida. Normalmente bastante comida. Enquanto para alguns isso é tranquilo, para outros pode ser aterrorizante, assim como esse famoso quadro de Edvard Munch.

Para que estas pessoas já possam se preparar, resolvi adiantar este texto com algumas dicas sobre como aproveitar melhor as festas:

1. Pense nas comidas e nos alimentos típicos que mais te geram medo/culpa. De tanto se proibir de comê-los, você pode acabar exagerando. Que tal prepará-los e comê-los nesses dias que ainda faltam para as festas? Assim você reduz o estigma e poderá comê-los com mais tranquilidade na ceia.

2. Pare de pensar no peso que você nem sabe se irá ganhar. É normal comer um pouco a mais durante as festas. Nosso corpo sabe lidar com excessos esporádicos. Se você vier a ganhar um pouco de peso, é bastante provável que o perca quando volta à sua rotina normal, sem precisar se “detoxificar” ou fazer uma dieta para isto.

3. Alimente-se durante os dias 24 e 31/12. Não passe fome o dia todo para poder “caber mais” à noite. Isso vai fazer com que você coma exageradamente e provavelmente mais rápido, sem saborear de verdade a comida. E não era essa a ideia que você tinha em mente quando pensou em fazer isso: seu objetivo era comer mais, mas para aproveitar o que você iria comer.

4. No momento da ceia, observe todos os pratos disponíveis e escolha aquilo que de fato você quer comer. Você não precisa pegar nada que não queira para agradar ninguém. Agrade a si mesmo: monte um prato com as coisas que mais gosta, que normalmente são aquelas que possuem algum significado ou memória alimentar: a farofa fofinha da sua avó, o peru que sua mãe só faz nessa época do ano...; sente-se num local relativamente tranquilo; coma devagar e com prazer.

5. Avalie algumas vezes seu grau de saciedade. Se havia algo que você queria comer mas já está um pouco cheio, não se preocupe: você pode pegar um pouco e guardar para o dia seguinte. Perceba se está pegando a terceira sobremesa porque de verdade a quer ou se já está cedendo ao pensamento “já que”: “já que comi tudo isso, que mal faz um pouco mais...”

6. A comida é parte importante das festas, mas existem outras coisas além dela. Perceba que as celebrações de fim de ano não se resumem só à comida: monte uma decoração bacana na sua casa, compre uma bela toalha de mesa para a ceia, monte suia lista de metas para 2014 e pense em incluir nela uma meta para melhorar seu autocuidado: começar uma nova atividade física prazerosa, fazer um curso, comer uma fruta todo dia, fazer massagem uma vez ao mês...

Vou adorar ouvir outras sugestões bacanas!