quarta-feira, 23 de março de 2016

Como falar com seu corpo

"Não há pré-requisitos para se amar"
 
Hoje recebi por email uma newsletter do autor americano Elisha Goldstein, que também é um dos fundadores do The Center for Mindful Living em Los Angeles (saiba mais aqui). Tratava-se de um ensinamento do Buda sobre comunicação assertiva e empática, ou seja, uma maneira de dialogar com os outros que não provoca conflito e hostilidade. Resolvi trazer aqui no blog essas orientações budistas milenares para pensarmos um pouco na maneira como temos dialogado com nós mesmos, especialmente com nosso corpo.
A mensagem é simples. Ao falar/escrever, deixe suas palavras passarem por três filtros:
É verdadeiro?  Seus pensamentos e sensações em relação ao seu corpo representam uma verdade absoluta ou estão sendo influenciados por julgamentos excessivamente rígidos? Quando você pensa “estou gordo”, será que isso é mesmo real ou talvez o sentir-se gordo esteja camuflando uma outra emoção difícil? Todos te caracterizariam como uma pessoa gorda? E se for real, será que “gordo” é um adjetivo neutro para você, uma simples caracterização do seu estado físico, ou será que já não traz consigo significados e conotações morais e pejorativas?
É necessário? O quanto reclamar de seu corpo já contribuiu com uma melhora efetiva de sua relação consigo mesmo e de seu autocuidado? Será que é preciso despender tanta energia negativa com ruminações sobre o quanto seu corpo está “inadequado”? Que consequências isso trará em sua vida?
É gentil? Depreciar seu corpo te tornará mais confiante e motivado em adotar novos comportamentos? Você usaria as mesmas palavras que repete a si mesmo sobre seu corpo para falar de um amigo? Ou será que soaria muito ofensivo? Por que então se agredir?
Deixo então uma sugestão: experimente monitorar seu “diálogo mental” e tente mudar o tom quando estiver sendo excessivamente rígido e negativo em relação a seu próprio corpo. Ele é seu veículo aqui na Terra e merece seu respeito.
Boa semana!



terça-feira, 8 de março de 2016

Saúde mental apresenta deterioração após cirurgia bariátrica

Não é novidade que o número de cirurgias bariátricas no Brasil – e no mundo – tem crescido, e cada vez mais pessoas buscam o procedimento com a promessa de emagrecimento sustentado a longo prazo e melhor qualidade de vida. Entretanto, alguns estudos já mostram que o reganho de peso, muitas vezes excessivo, é inevitável (veja aqui e aqui), e alguns pacientes, inclusive, acabam por refazer as cirurgias devido a falhas em perder peso/manter o peso perdido (veja aqui).

Em relação ao bem estar psíquico, indicadores de saúde mental costumam melhorar nos dois primeiros anos pós-cirúrgicos, porém, após o terceiro ano esses efeitos tendem a não ser mais observados, e alguns pesquisadores chegam a afirmar que a taxa de suicídio entre pacientes bariátricos é significantemente maior que na população geral (veja aqui e aqui).

Um estudo israelense recente avaliou durante dez anos um grupo de indivíduos que passaram pela cirurgia, bem como um grupo de pessoas que passaram por programa de emagrecimento não cirúrgico. Os achados mostram que, ao final do período, indicadores de saúde mental apresentaram deterioração significante em comparação com os dados pré-operatórios, mesmo obtendo e mantendo uma perda de peso de sucesso para a técnica cirúrgica. O grupo que não passou pelo procedimento permaneceu psicologicamente estável em todos os pontos de análise do estudo.

Algumas explicações sugeridas pelos autores para essa piora na saúde mental é que os indivíduos que passam pela cirurgia muitas vezes têm expectativas muito altas sobre os ganhos que terão com ela, isto é, depositam todas as esperanças de felicidade e bem estar no emagrecimento promovido pela cirurgia. Eu mesma já vi muitos pacientes se desiludirem, pois emagreceram e a vida continuou com os mesmos problemas e conflitos; e muitas vezes, os problemas estão até piores, pois antes a pessoa usava a comida como recurso para lidar – ou melhor, não lidar – com algumas questões de sua vida, e após a cirurgia isso se torna mais difícil...

Muitos acham que a cirurgia é uma “solução mais fácil” para a questão da obesidade grau 3, a também chamada “obesidade mórbida”. Mas essa e outras pesquisas mostram que é justamente o contrário. A cirurgia deve ser o último recurso e os pacientes devem ser muito bem avaliados, já que é um procedimento drástico e que promove muitas mudanças fisiológicas e psicológicas. Daí a importância de uma boa indicação cirúrgica e de um bom acompanhamento multiprofissional.

Boa semana todos!