segunda-feira, 21 de novembro de 2016

A experiência da saciedade



“Como você sabe que está saciado?”
Essa é uma das perguntas cruciais que faço a meus pacientes quando começamos a trabalhar a reconexão com o corpo e uma maior consciência alimentar. Afinal, fome e saciedade são dois gatilhos importantes e poderosos que interferem diretamente no nosso comportamento com  a comida. A autora Evelyn Tribole, do livro Intuitive Eating, diz inclusive que esses sinais compõem nossa “sabedoria interna”, isto é, por meio desses e outros sinais corpóreos somos capazes de controlar quando devemos comer e quando já podemos parar.
Um momento favorável para interrompermos nossa refeição é quando estamos moderadamente saciados, isto é, quando já não temos mais fome porém ainda estamos confortáveis. É aquele ponto em que ainda cabe mais comida no estômago, se quisermos, mas nosso organismo já sente a presença dela e portanto podemos parar. Descrever é um tanto quanto complexo, mas conforme vamos nos atentando e experimentando essas sensações, elas ficam mais nítidas e claras.
Para atingirmos e percebermos esse estado de saciedade moderada, são necessários, na minha concepção, três fatores:
1. Quantidade adequada de comida. Esse fator é o mais óbvio: para ficarmos saciados, precisamos de uma quantidade de comida compatível com a fome que nos fez comer, ou pelo menos uma quantidade de comida que faça com que a parede do nosso estômago se distenda (a distensão estomacal transmite um sinal ao cérebro de que já estamos alimentados). Além disso, quanto mais macronutrientes presentes na comida – carboidratos, lipídios, proteínas –, mais saciados ficamos, já que esses nutrientes favorecem a liberação de hormônios sacietógenos.
2. Atenção ao comer. Diversos estudos mostram que a falta de atenção ao comer faz com que comamos mais, especialmente por não percebermos os sinais sutis da  saciedade. O livro Mindless eating, do autor Brian Wansink, traz várias evidências a esse respeito. Experimente comer sem distratores – celular, tablet, televisão, computador, dentre outros – para ver o que muda.
3. Prazer. Quando comemos aquilo que de fato queremos e nos permitimos sentir prazer – e não culpa –, a tendência é comermos menos. Afinal, a experiência de saciedade não é somente física. Uma outra palavra usada para definir saciedade é satisfação, mostrando a importância do prazer para que a nossa experiência seja a mais plena possível. Quando comemos aquilo que gostamos, não ficamos buscando compensar a falta de satisfação do paladar com uma quantidade maior de comida.
Você percebe a influência desses três fatores? De que maneiras você pode contribuir para que sua experiência de saciedade seja a mais plena possível?
Boa semana a todos!

terça-feira, 8 de novembro de 2016

Estar presente para si mesmo

Estudando e lendo sobre autocompaixão, tenho me maravilhado cada vez mais com seu efeito transformador sobre nossas vidas. Autocompaixão é a habilidade de estar sensível ao seu próprio sofrimento e comprometer-se a agir da melhor maneira possível para tentar aliviá-lo. Parece simples e até mesmo óbvio, não?

O que acontece, porém, é que em muitas circunstâncias somos capazes de potencializar nosso próprio sofrimento. Quando algo ruim acontece ou ao sentirmos que falhamos, ao invés de reconhecermos nossa vulnerabilidade – afinal, errar é humano! – e nos tratarmos com gentileza, nos criticamos e nos julgamos, aumentando ainda mais a sensação de impotência e inadequação. Em última instância, não encaramos o nosso sofrimento com a atenção e o cuidado que ele merece. Resultado? Muitas pessoas, frente a uma situação emocionalmente desafiadora, acabam comendo como forma de aliviar ou de não precisar entrar em contato com o que está acontecendo.

Existe um ditado budista que diz: cuide da sua dor como se estivesse cuidando de um amigo que está machucado. Essa fala é muito sábia, pois de fato não é possível aliviar sofrimento por meio da autocrítica e do autojulgamento! Então, da próxima vez que sentir que errou, tente estar presente para si mesmo. Acolha sua dor, sua culpa, e tente não se julgar ou se criticar demasiadamente nesse momento tão delicado. Se abrace e esteja consigo mesmo. Pergunte-se o que de melhor você pode fazer para se aliviar e se cuidar. Explore maneiras alternativas à comida para obter aquilo que de fato você precisa.