segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Quando o corpo ideal ameaça o esporte


Acredito que muitos se lembram desta ex-nadadora inglesa, Rebecca Adlington, que ganhou duas medalhas de ouro nas Olimpíadas de 2008 e duas de bronze nas Olimpíadas de 2012. A primeira nadadora do país a ganhar duas medalhas de ouro desde 1908...

Não se lembram?

Talvez agora sim: ela é aquela nadadora que a mídia chamou de “gorda” ano retrasado.

Assim como Rebecca, são muitas as atletas que sofrem com a insegurança corporal. Uma empresa de pesquisa, que entrevistou 110 atletas de elite da Grã-Bretanha, divulgou resultados assustadores: 89% delas disseram que se sentem inseguras com seus corpos e com o fato de eles não corresponderem ao ideal atual de beleza; 67% acreditam que a mídia e o público valorizam mais sua aparência do que suas conquistas esportivas; e, finalmente, mas não menos alarmante, quase 80% das atletas se sentem pressionadas para mudarem seus corpos, o que segundo elas influencia seus regimes de treinamento e seus hábitos alimentares.

Ou seja: muitas atletas, apesar de suas conquistas esportivas, ainda assim estão sendo julgadas por sua aparência, tanto pela mídia quanto pelo público em geral, e também pelos patrocinadores. Isso obviamente está colocando suas performances em risco. É o caso da triatleta Hollie Avil, que se aposentou antes das últimas Olimpíadas devido a um transtorno alimentar. Ela disse que um dos gatilhos para o surgimento da doença foi na adolescência, quando seu treinador a chamou de gorda.

Não sejamos ingênuos: obviamente existem muitos esportes que são considerados de risco para o surgimento de transtornos alimentares, já que “exigem” um determinado tipo de corpo, mais magro, devido à estética da modalidade e aos resultados esperados. Agora, o fato de muitas atletas que já são de elite serem ainda mais cobradas em relação ao seu corpo, inclusive prejudicando sua performance... Isso é ultrajante.

Em 2012 escrevi um outro post sobre as Olimpíadas, veja aqui.

sábado, 18 de janeiro de 2014

Engorda ou emagrece?


Se numa roda de amigos você jogar no ar a seguinte pergunta: “Fast food engorda?”, a principal resposta que irá ouvir é um sonoro SIM. Mas o que dizer, então, da experiência do professor americano John Cisna? Por três meses, ele se alimentou somente de refeições fornecidas pela cadeia de fast food Mc Donald’s. Teve o cuidado, porém, de não ultrapassar o limite diário de 2000kcal (o que seria o consumo médio indicado para adultos) e de se atentar aos valores de carboidratos, gorduras, proteínas e colesterol recomendados ao dia. Além disso, ele passou a caminhar 45 minutos diariamente, sendo que antes era sedentário. Ao final do período, ele perdeu 16kg e seu colesterol foi de 249mg/dL para 170mg/dL, valor considerado adequado (veja matéria completa aqui).

Não estou aqui fazendo apologia ao fast food ou a qualquer outro alimento, nem tampouco estou afirmando que comer Mc Donald’s por um mês seria uma escolha que eu indicaria: afinal, a dieta é monótona e não conta com diferentes grupos alimentares e nutrientes. Entretanto, o ponto em que quero chegar – e que defendo abertamente – é o seguinte: nenhum alimento ou comida, isoladamente, tem o “poder” de nos engordar ou emagrecer. Tais processos são complexos e dependem da interação de diversos fatores: alimentares, hormonais, genéticos, ambientais... Alimentos simplesmente não engordam ou emagrecem pois tudo depende do contexto em que são consumidos, da frequência, da quantidade e, acima de tudo, de como a pessoa se relaciona com a comida.

Por isso, fico profundamente incomodada com manchetes e apelos de mídia como “chá verde emagrece”, “açúcar é um vilão”, “chia para afinar a cintura”. Tais constatações são reducionistas e simplificam ao extremo o papel dos alimentos na nossa saúde e na nossa vida.