quarta-feira, 26 de junho de 2013

Enfatizar controle de peso em jovens com excesso de peso é prejudicial

Já escrevi aqui que mães de filhos obesos tendem a incentivar mais a prática de dietas, que é um fator de risco independente para transtornos alimentares e que pode levar à obesidade ao longo dos anos. Um estudo recente publicado na revista científica JAMA Pediatrics confirmou este dado: jovens com excesso de peso cujos pais falavam constantemente sobre peso apresentaram maiores prevalências de prática de dietas e comportamentos não saudáveis de controle de peso do que jovens cujos familiares conversavam somente sobre alimentação saudável (53,4% x 40,1% para prática de dietas e 53,2% x 40,6% para comportamentos não saudáveis de controle de peso, como pular refeições, usar diuréticos e laxantes). A amostra consistiu em mais de 2000 adolescentes e mais de 3000 pais, participantes do grande estudo Eating and Activity in Teens 2010 (EAT 2010), coordenado pela renomada pesquisadora Dianne Neumark-Sztainer.

Ou seja: não importa o peso do seu filho, enfatizar controle de peso só aumenta a probabilidade dele fazer dieta (que não é nada bom!) e usar métodos inadequados para controlar seu peso, como vomitar, usar laxantes e fazer jejuns!

Ao invés disso, procure conversar sobre alimentação saudável no sentido amplo do conceito, colocando que todos os alimentos podem ser consumidos com moderação e prazer!

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Se você fosse morrer hoje, qual seria sua última refeição?



Brian Wansink, autor do livro “Mindless Eating” (fortemente recomendo!) e de diversas pesquisas curiosas que avaliam as razões inconscientes e automáticas pelas quais escolhemos determinados tipos de alimentos, publicou um estudo muito interessante sobre o conteúdo alimentar da última refeição de presos americanos no corredor da morte. O objetivo foi tentar investigar como as pessoas se relacionam com a comida em situações altamente estressantes do ponto de vista emocional (não imagino nada mais estressante do que saber que em algumas horas estarei morta!). Sabe-se que muitas pessoas em situações financeiras desfavoráveis, por exemplo, tendem a ter o pensamento de “aproveitar o presente, já que o futuro é incerto”. Alguns estudos inclusive apontam que este seria um fator relacionado ao aumento da obesidade em camadas sociais mais pobres.

Os pesquisadores analisaram a última refeição de 193 presos que foram executados entre 2002 e 2006 nos EUA. Eles encontraram que o valor calórico médio das refeições era de 2756kcal, sendo que algumas refeições chegaram a 7200kcal! Além disso, as refeições eram normalmente ricas em proteínas (em especial carnes de maneira geral) e carboidratos (em especial açúcar branco, sacarose, na forma de sobremesas) e pobres em vegetais e frutas. Ainda assim, 26,9% dos presos pediram por “salada” na forma de acompanhamento.

Outra observação curiosa é que dos 66% que pediram sobremesa, a maioria pediu mais de um ítem (torta e sorvete, por exemplo). Chocolate não apareceu nenhuma vez, a não ser como um modificador (exs: bolo de chocolate, leite com chocolate, mas nunca só o chocolate).

Os autores discutem que a escolha de comidas ricas em calorias, carboidratos e açúcares podem refletir a preferência alimentar dos presos mas também a necessidade por conforto e acolhimento numa situação altamente estressante e desoladora. Não foi a toa, por exemplo, que 40% dos indivíduos escolheram alimentos de marcas específicas e conhecidas. Ou seja, seu estudo é mais uma evidência de que ambientes e situações desfavoráveis e emocionalmente desconfortáveis podem levar ao exagero alimentar.

Mas na minha opinião, o que ele coloca de mais importante, é o seguinte questionamento: será que profissionais/campanhas antiobesidade promovem algo de positivo quando “assustam” as pessoas com as consequências negativas da obesidade? Ou será que, assim como nas campanhas de cigarro com aquelas imagens ameaçadoras, isso gera tamanha ansiedade que faz com que as pessoas consumam/comam mais?

Boa reflexão a todos!

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Campanhas “antiobesidade” manipulam imagens de crianças

Todos sabemos que as imagens veiculadas pela mídia atualmente estão completamente modificadas por Photoshop. Mas as imagens não são editadas somente para deixar as pessoas mais magras: elas podem se tornar mais gordas também.

Uma agência governamental americana criou uma campanha “antiobesidade” mostrando a imagem de uma criança gorda tomando um pacote de açúcar, alegando que é isso mesmo que acontece quando se toma sucos industrializados e refrigerantes. O espantoso é que eles usaram como base a fotografia de uma criança com peso aparentemente normal, modificando-a com o Photoshop. Como se só as crianças com excesso de peso tomassem sucos e refrigerantes...



Esse tipo de estratégia para chocar os consumidores já foi usado em muitas campanhas “antiobesidade”. Coloco entre aspas pelo seguinte motivo: usar imagens estereotipando os obesos contribui ainda mais com a estigmatização de quem está acima do peso e não ajuda em nada na promoção de mudanças de comportamento (este estudo demonstra isso de forma muito clara). Ou seja: fazer os gordos se sentirem mal, por meio de campanhas retratando de forma negativa pessoas obesas, NÃO fará com que eles adotem comportamentos mais saudáveis. Ponto final.

Se esse tipo de campanha funcionasse (veja mais um exemplo abaixo, de um homem que aparece com a perna “amputada” pelo Photoshop), os índices de obesidade não estariam crescendo...