segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Cronicidade dos transtornos alimentares pode levar a alterações genéticas

Esses dias li no site da Douglas Mental Health University Institute, uma instituição canadense, a respeito de um estudo que será publicado no International Journal of Eating Disorders com o título DNA methylation in individuals with Anorexia Nervosa and in matched normal-eater controls: a genome-wide study” (veja a matéria aqui). Segundo este email, o estudo revelou que, para mulheres, ter anorexia nervosa há muito tempo (ou seja, um transtorno alimentar crônico) está associado a uma maior alteração nos padrões de metilação de genes relacionados à ansiedade, imunidade e comportamento social. O autor principal já publicou outros estudos sobre genética e transtornos alimentares (veja um deles aqui).

Explicando melhor: quando o processo de metilação de genes é alterado, altera-se também a expressão desses genes. A expressão dos genes controla produção de substâncias, funções fisiológicas, respostas emocionais... Ou seja, o que o estudo a ser publicado sugere é: quanto mais tempo as mulheres mantiverem o diagnóstico de transtorno alimentar, maior a chance delas apresentarem alterações em genes que controlam níveis de ansiedade e outras funções fisiológicas.
Isso corrobora com um fato que cientificamente já sabemos: quanto mais tempo a pessoa demora pra buscar tratamento especializado, mais complicada é a remissão dos sintomas físicos e psicológicos.

Claro que teremos que ler o estudo na íntegra quando for publicado, e devemos ter em mente que esta área de pesquisa (envolvendo transtornos alimentares e genética) está em expansão. Mas com certeza os achados apontam para a importância do tratamento precoce dos transtornos alimentares. E nos faz pensar em hipóteses para estudos futuros: sabendo que a maioria dos quadros de anorexia nervosa tem como fator predisponente a prática de dietas, será que pessoas que fazem dieta cronicamente também não estariam sujeitas a alterações na expressão de seus genes?


Boa semana a todos!

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Treinamento em compaixão: como me enriqueceu como nutricionista e como pode enriquecer a sua vida


Nestes últimos cinco dias, participei na Associação Palas Athena (associação sem fins lucrativos cuja missão é “aprimorar a convivência humana desenvolvendo ações educativas por meio da aproximação das culturas e articulação dos saberes”, saiba mais aqui) de um treinamento em compaixão com dois monges budistas. Um deles, inclusive, criou o que se chama de Treinamento em Compaixão na Abordagem Cognitiva (Cognitive Based Compassion Training ou CBCT), um programa que busca melhorar a qualidade de vida de diversas populações e que vem sendo avaliado por meio de estudos científicos (veja uma explicação mais detalhada sobre o método e sobre as pesquisas realizadas aqui).

O treinamento foi intenso e cansativo. Afinal, falar e praticar compaixão pode ser um tanto quanto difícil! Inclusive, o momento em que mais precisamos praticar compaixão é justamente quando ela é mais difícil... Mas fiquei muito feliz em ter participado, pois acredito que me tornou uma nutricionista melhor. Explico.

Um dos pontos que foi muito reforçado no curso, inclusive por meio da exposição de estudo científico que comprovou o fato, é que treinar compaixão – por meio de meditações e do cultivo da empatia, por exemplo – aumenta a reatividade de uma área de nosso cérebro chamada amígdala, importante na autopreservação da espécie já que é o centro identificador de situações de “perigo” e está envolvida na produção de uma resposta a emoções como medo e ansiedade. Ou seja, o estudo mostrou que, ao serem expostos a imagens negativas, os indivíduos que passaram por treinamento de compaixão se tornaram mais sensíveis a estas imagens, mas apresentaram menores escores de depressão do que os indivíduos não treinados. Isso significa que, apesar de terem sido expostos a imagens de sofrimento alheio, conseguiram expressar maior empatia mas mantendo um “distanciamento” saudável, sem “mergulhar” na situação negativa do outro.

Ora, empatia e compaixão são qualidades primordiais para qualquer bom terapeuta nutricional! De outra forma, não conseguiríamos ajudar de forma consistente nossos pacientes com suas dificuldades. Nos sentiríamos sobrecarregados demais e poderíamos nos contaminar com uma sensação de desesperança.

Outra questão é que, no treinamento de compaixão, um dos primeiros passos é desenvolver e aprimorar a nossa autocompaixão. Não podemos verdadeiramente sentir compaixão pelo outro se não sentimos por nós mesmos. E como eu já coloquei em alguns outros posts, autocompaixão implica em deixar de lado a culpa e aceitar nossas falhas, nosso caráter imperfeito, nossos desejos íntimos... Enfim, quem nós somos de fato. Implica em autoconhecimento.



A grande questão é que aceitação não significa passividade. Porém, enquanto estivermos imersos em culpa e julgamento, não poderemos enxergar a situação que tanto nos incomoda por uma perspectiva mais ampla, para podermos então encontrar um novo caminho. E eu vejo isso direto com as pessoas que buscam minha ajuda para mudar sua relação com a comida, mas que têm muita dificuldade nesse processo por se julgarem ou se criticarem demais.

Então, sou muita grata por esse curso pois contribuiu na minha evolução como nutricionista. Na minha evolução como pessoa. E espero que o exercício da compaixão possa ajudá-lo também.