sábado, 17 de maio de 2014

Lobo em pele de cordeiro: os aspectos doentios dos blogs “de saúde”


Muito se fala sobre o papel negativo da mídia na promoção do atual padrão de beleza e no incentivo à prática de dietas (estas, por sinal, a cada dia mais bizarras!). A maioria das pessoas já concorda que são inadequadas as revistas e livros de dietas da moda, os editoriais fashion que glamourizam a magreza extrema, os sites pró transtornos alimentares... Mas, e quando o lobo se esconde por trás de uma pele de cordeiro?

Um estudo americano analisou o conteúdo das mensagens postadas em 21 blogs “de saúde” que haviam recebido prêmios e que eram visitados por milhares de pessoas diariamente (o menos visitado recebia em média 1100 acessos ao dia). Os pesquisadores verificaram que 5 blogueiras (eram todas mulheres) mencionavam terem se recuperado de um transtorno alimentar e que 6 delas, no período avaliado, foram patrocinadas para fazerem avaliação de produtos de grandes indústrias de dieta/beleza. Além disso, 12 blogueiras apresentavam fotos suas posadas de forma a parecerem mais magras e 12 usavam linguagem pejorativa e estigmatizante ao se referirem a pessoas gordas. O mais alarmante, entretanto, na minha opinião, foi o fato de 11 delas incluírem em seus posts mensagens negativas relacionadas à comida (o estudo chamou de “mensagens indutoras de culpa alimentar”) e mencionarem estar seguindo alguma dieta.

Os autores do estudo concluem que “blogs de saúde contêm mensagens e informações que podem ser potencialmente problemáticas para indivíduos que as leem e que baseiam suas ações em seu conteúdo”.

Além do estudo ter sido muito bem conduzido, resolvi escrever sobre ele pois seus achados são muito relevantes no contexto atual, em que a internet e as mídias sociais estão presentes na vida (e seguramente moldando o comportamento) de bilhões de pessoas. Infelizmente, os resultados não foram nada surpreendentes. Comecei a escrever esse blog em 2010 justamente porque estava cansada e irritada com a variedade de informações doentias veiculadas por sites e blogs que se dizem “de saúde”. Me consolo com a crença de estar ajudando algumas pessoas em sua busca por uma vida fisicamente e psicologicamente mais saudável, mas não deixo de me entristecer ao saber que muitas outras pessoas estão ficando cada vez mais doentes com o que está sendo dito por aí.

Recomendo dois outros textos sobre o tema: um publicado no blog do Genta e outro publicado no blog Não Sou Exposição.

Bom final de semana!

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Como priorizar a alimentação na sua vida


Num processo de mudança de comportamentos alimentares, é essencial que a comida se torne uma prioridade em nossa vida. Sempre digo aos meus pacientes que a alimentação não precisa ser a coisa mais importante da nossa rotina, mas deve ser uma delas. Afinal, enquanto estamos acordados, uma das coisas que mais fazemos é comer!

Percebo que a dúvida de muitas pessoas passa pelo caminho do equilíbrio: como tornar minha alimentação uma prioridade sem ficar (mais) neurótico ou (mais) obcecado com a comida? Não acredito que existam respostas absolutas, cada pessoa precisa encontrar seu próprio caminho (por meio do autoconhecimento e, se possível, com a ajuda de um nutricionista!). Mas algumas coisas de fato podem ajudar:

1. Encare priorizar a alimentação como autocuidado.

Pensar e cuidar da nossa alimentação é um dos aspectos fundamentais do nosso autocuidado. Não encare cuidar de si como “indulgência” ou “perda de tempo”. Além disso, reveja outros aspectos do seu autocuidado que podem estar negligenciados (sono, espiritualidade, relaxamento, lazer), pois cuidar da alimentação quando se está dormindo cinco horas por noite, por exemplo, pode ser extremamente difícil. Sempre que vier o pensamento “não tenho tempo pra isso”, lembre-se de que tempo é questão de prioridade! Tente pensar ao invés disso: “o que preciso fazer/mudar para ter mais tempo para cuidar de mim e da minha alimentação?”. Veja dois textos bons sobre autocuidado aqui e aqui.

2. Estabeleça horários para que você possa se alimentar. Ao final de cada dia, pense no seguinte e encontre horários em sua rotina para poder comer. Nesses intervalos, coma de acordo com sua fome e saciedade e também de acordo com seu apetite e suas preferências. Lembre-se que permissão alimentar reforça a disciplina, isto é: permita-se comer de fato aquilo que gosta e deseja. Se você acredita que a única opção “saudável” e “correta” para um lanche da tarde é uma fruta, talvez seja mais simples pular essa refeição e acabar comprando a esfiha da padaria quando for embora do trabalho e estiver morrendo de fome...

3. Tenha comida disponível. Isso parece bobo, mas muitas pessoas de repente se pegam com fome e acabam comendo "o que tem", pois não pensaram em opções com antecedência. Além de planejar horários para comer, planeje também uma lista de compras para que você tenha em sua casa e seu trabalho comidas variadas e que você de fato goste. Pense que uma forma mais inteligente de obter a tão desejada moderação alimentar é por meio da variedade, e não da restrição.

Os princípios da competência alimentar, modelo criado e estudado pela nutricionista americana Ellyn Satter (veja texto dela aqui), me inspiraram bastante nesse texto. Seu artigo que explica mais detalhes sobre este modelo pode ser encontrado no primeiro link do tópico “artigos interessantes”, na lateral do blog. Não deixem de ler!

Boa semana!