quinta-feira, 31 de maio de 2012

A importância do ouvir



Esses dias estive pensando sobre o papel dos profissionais de saúde atualmente. Na maioria das vezes, assumimos uma postura essencialmente curativa. Incorporamos a ideia que os casos que atendemos são essencialmente iguais quando a patologia é a mesma. Reduzimos o tempo de atendimento e limitamos as perguntas que fazemos aos pacientes, pois muitas vezes "já sabemos o que eles vão responder". Generalizamos conceitos. Assumimos que sabemos exatamente como "curar" o indivíduo.

Só que, na verdade, não é bem assim.

Os casos e patologias podem ser semelhantes, ter o mesmo diagnóstico, mas as pessoas são diferentes. Suas histórias de vida são diferentes. E quando estamos falando de quadros que envolvem sofrimento psíquico, além de físico, isso se torna especialmente importante.

Um outro problema dessa postura curativa, pelo menos para nós nutricionistas, é o fato de acreditarmos que somos responsáveis pela cura dos sintomas e pela cura do sofrimento de alguém, ao passo que o sofrimento por si só é inerente à existência humana. Temos na manga milhões de prescrições, dicas, sugestões e estratégias, o que de certa forma é importante, mas esquecemos que o principal responsável pela mudança de comportamentos é o próprio paciente. Esquecemos que, muitas vezes, se estimulassemos mais a conversa e adotássemos a escuta ativa, as soluções partiriam do prórpio paciente.

Muitos profissionais se sentem confusos com essa abordagem porque, além de outras coisas, sentem que perderiam a função e a importância dentro do tratamento. E é justamente aí que se enganam. É aí que o vínculo com o paciente se torna mais forte e essencialmente terapêutico. É quando conseguimos obter significados daquilo que ouvimos e que num primeiro momento parecia insignificante.

Tem uma frase da americana Laura Douglass que gosto muito e que me fez repensar meu papel como nutricionista (inclusive, esta frase está neste artigo, muito interessante! Quem quiser manda um email que tenho a versão na íntegra!): "Eu não preciso resolver cada conflito, mas sim criar um contexto, um ambiente propício, em que ideias e posições conflitantes são convidadas a brincar e imaginar novas formas de conviverem juntas".

3 comentários:

  1. Querida Ana Carolina, boa tarde!

    É sempre bom passar pelo seu Blog. Esta sua postagem, não é rica apenas para os profissionais da área de saúde; é uma lição de vida para todos nós. Todos os dias, "meto os pés pelas mãos", apenas pela minha incapacidade de ouvir.
    É sempre muito duro, entendermos que a verdade da gente, é apenas a verdade da gente.
    Obrigado, muito obrigado pelo alerta.

    Sucesso!

    Daniel Bilk Costa

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  2. Olá, Ana!

    Muito boa matéria! Parabéns!
    Você pode me enviar esse artigo da Laura?

    Obrigada e sucesso sempre!
    Hevoise
    hevoise@hotmail.com

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  3. Oi Ana,

    tenho bulimia há 20 anos já tentei em outros momentos passar por tratamentos e me recuperar, mas sempre fracassei. Agora acho que pela primeira vez estou empenhada, de verdade, em sair desse ciclo que não aguento mais. Adorei sua matéria. Realmente seria muito bom que os nutricionistas e todos profissionais de saúde pudessem nos escutar mais e ouvir nossos medos e pânicos e assim juntos pudéssemos buscar uma solução mais adequada para o tratamento e a busca da recuperação. Inclusive, porque dessa forma acredito que se a solução encontrada for algo feito em duas mãos, negociada e aceita pelos dois médico e paciente, o sucesso será maior. O paciente terá mais empenho em manter a dieta sugerida. Parabéns pela matéria. Se puder me manda o artigo da Laura.

    mulherinterrompida@gmail.com

    Estou escrevendo um blog para contar um pouco da minha busca pela recuperação. Essa é uma forma de terapia que encontrei. http://mulherinterrompida.blogspot.com.br/

    Estou buscando minha recuperação sem acompanhamento nutricional, pois não achei profissional qualificado em minha cidade (que entendam de transtornos alimentares). Por isso, blogs como o seu que trazem informações são muito importantes.

    Parabéns.

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