segunda-feira, 17 de junho de 2013

Se você fosse morrer hoje, qual seria sua última refeição?



Brian Wansink, autor do livro “Mindless Eating” (fortemente recomendo!) e de diversas pesquisas curiosas que avaliam as razões inconscientes e automáticas pelas quais escolhemos determinados tipos de alimentos, publicou um estudo muito interessante sobre o conteúdo alimentar da última refeição de presos americanos no corredor da morte. O objetivo foi tentar investigar como as pessoas se relacionam com a comida em situações altamente estressantes do ponto de vista emocional (não imagino nada mais estressante do que saber que em algumas horas estarei morta!). Sabe-se que muitas pessoas em situações financeiras desfavoráveis, por exemplo, tendem a ter o pensamento de “aproveitar o presente, já que o futuro é incerto”. Alguns estudos inclusive apontam que este seria um fator relacionado ao aumento da obesidade em camadas sociais mais pobres.

Os pesquisadores analisaram a última refeição de 193 presos que foram executados entre 2002 e 2006 nos EUA. Eles encontraram que o valor calórico médio das refeições era de 2756kcal, sendo que algumas refeições chegaram a 7200kcal! Além disso, as refeições eram normalmente ricas em proteínas (em especial carnes de maneira geral) e carboidratos (em especial açúcar branco, sacarose, na forma de sobremesas) e pobres em vegetais e frutas. Ainda assim, 26,9% dos presos pediram por “salada” na forma de acompanhamento.

Outra observação curiosa é que dos 66% que pediram sobremesa, a maioria pediu mais de um ítem (torta e sorvete, por exemplo). Chocolate não apareceu nenhuma vez, a não ser como um modificador (exs: bolo de chocolate, leite com chocolate, mas nunca só o chocolate).

Os autores discutem que a escolha de comidas ricas em calorias, carboidratos e açúcares podem refletir a preferência alimentar dos presos mas também a necessidade por conforto e acolhimento numa situação altamente estressante e desoladora. Não foi a toa, por exemplo, que 40% dos indivíduos escolheram alimentos de marcas específicas e conhecidas. Ou seja, seu estudo é mais uma evidência de que ambientes e situações desfavoráveis e emocionalmente desconfortáveis podem levar ao exagero alimentar.

Mas na minha opinião, o que ele coloca de mais importante, é o seguinte questionamento: será que profissionais/campanhas antiobesidade promovem algo de positivo quando “assustam” as pessoas com as consequências negativas da obesidade? Ou será que, assim como nas campanhas de cigarro com aquelas imagens ameaçadoras, isso gera tamanha ansiedade que faz com que as pessoas consumam/comam mais?

Boa reflexão a todos!

Um comentário:

  1. Tenho certeza que em situações de estresse e ansiedade nós comemos mais e pior. Posso afirmar isso pois é o que acontece comigo. Na minha opinião, esse terrorismo todo à respeito da obesidade e a já rotineira gordofobia, são os mais fortes motivos para as pessoas se alimentarem de forma tão errada hoje. A cobrança para se enquadrar no "padrão" é grande, sou bombardeada a todo momento por promessas de dietas milagrosas e sei que muita gente, no desespero, tenta todas elas.

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