sábado, 6 de setembro de 2014

Estigma da obesidade faz obesos comerem mais


Já escrevi algumas vezes aqui no blog (veja aqui, aqui, aqui, aqui, aqui) sobre o estigma do peso (ou weight bias), que é a discriminação ou estereotipação de pessoas com base em seu peso corporal. Atualmente, as mensagens da mídia e da sociedade em relação ao corpo são tão conflitantes e inadequadas que existe o que podemos chamar de “insatisfação normativa”, ou seja, parece que atualmente todas as pessoas – gordas ou magras – estão insatisfeitas com seus corpos. Mas nós sabemos que quem mais sofre com esse estigma são os obesos.

Já existem estudos mostrando como o estigma da obesidade prejudica a saúde e a qualidade de vida dos indivíduos, inclusive dificultando a busca por cuidados de saúde. E isso me parece bastante óbvio: se sou magra e tenho dor nos joelhos, provavelmente serei examinada, vão me solicitar exames específicos, vão sugerir exercícios de reabilitação e se for o caso me darão uma medicação para aliviar as dores e tentar amenizar o problema. Agora, se sou gorda e tenho a mesma dor, porque vou me sentar em frente a um profissional que provavelmente vai me mandar emagrecer e mais nada? Não vou nem perder meu tempo...

O quero demonstrar aqui é o relato de muitos pacientes, confirmados por meio de estudos científicos: pessoas obesas não têm o mesmo tratamento de saúde que pessoas magras, mesmo apresentando queixas/patologias semelhantes.

Um estudo qualitativo muito interessante, realizado aqui no Brasil (veja aqui), buscou avaliar a interferência da sociedade no consumo de alimentos por pessoas obesas. Os resultados confirmam algo que na prática já se nota: a sensação de inadequação por ser obeso, reforçada pelas mensagens preconceituosas da sociedade, e o sentimento de culpa por comer alimentos tidos como “proibidos”, faz com que os obesos comam mais. E não menos.

Por isso, acho importante repensarmos nossa conduta como profissionais de saúde diante de pacientes obesos. Vamos mesmo reforçar a ideia de que perder peso é ESSENCIAL para se melhorar a saúde ou vamos estimular MUDANÇAS DE COMPORTAMENTO que tragam benefícios independentemente da perda de peso? Vamos tentar entender com empatia a relação que o indivíduo tem com a comida ou vamos passar mais uma dieta?

Boa semana a todos!

Um comentário:

  1. Ana, como é bom ver uma profissional da saúde com seu pensamento. Ler esse texto foi uma esperança pelo fim do discurso médico cheio de preconceitos embutidos.

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