quarta-feira, 3 de junho de 2015

Cirurgia bariátrica e diabetes: não é tão simples assim...

Uma das justificativas para o número cada vez maior de cirurgias bariátricas na população com diabetes tipo 2 é a ideia de que o procedimento “curaria” a doença. Mas eu sempre ressalto em minhas aulas sobre diabetes que “o buraco é mais embaixo”.

Sim, muitos pacientes apresentam uma melhora drástica no controle glicêmico nos primeiros dois anos após a cirurgia; porém, o diabetes tipo 2 é uma doença crônica, portanto irreversível, e com diversos processos metabólicos envolvidos, havendo inclusive destruição de células beta (produtoras de insulina). Sendo assim, é bastante comum os pacientes, após esse período inicial de “lua de mel” da cirurgia, voltarem a apresentar descontroles glicêmicos (no jejum e pós-prandial, ou seja, após as refeições) e necessitarem novamente de medicação. Inclusive, um estudo de 2013 (veja aqui) mostrou que após seis anos de cirurgia a taxa de remissão total e parcial do diabetes foi de somente 24 e 26%, respectivamente, mesmo sem reganho significativo de peso. E pasmem: 16% dos pacientes não apresentaram mudança alguma em seu status de doença com o procedimento.

E foi publicado este mês na revista Lancet (séria e confiável revista científica) um estudo no qual 120 pacientes com diabetes tipo 2 foram acompanhados por dois anos: metade fez cirurgia e metade passou por tratamento convencional para a doença. A ocorrência de deficiências nutricionais, fraturas ósseas e infecções foi mais frequente nos indivíduos operados, reforçando ainda mais a necessidade de acompanhamento aos indivíduos com diabetes que optam pela cirurgia (veja estudo aqui).

Então, digo com bastante segurança: não existe ainda cura para o diabetes tipo 2, e o cuidado deve ser constante. Mesmo - ou melhor, especialmente - com a cirurgia bariátrica.

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