sábado, 23 de junho de 2012

É benéfico utilizar “recompensas” para promover mudanças de estilo de vida?



Acabei de ler um artigo um pouco antigo (de 1998) mas muito interessante e relevante para o momento em que estamos vivendo. Momento este em que nós, profissionais de saúde, buscamos cada vez mais estratégias que auxiliem nossos pacientes a implementarem mudanças efetivas em seu estilo de vida, com foco na promoção de saúde.

A ciência comportamental tradicional diz que nossos comportamentos são movidos pelas “recompensas” que obtemos deles, e com o tempo acabam se tornando hábito (mesmo que a “recompensa” não esteja mais presente). Ou seja: se um rato numa gaiola sente cheiro de queijo, ele vai tentar alcançá-lo, pois sabe que vai obter algo bom com esta ação. Se por outro lado ele levar um choque quando pisar perto do queijo, sua busca pelo alimento será inibida.

O problema é que nós, humanos, não somos tão “simplistas” assim (e graças a Deus os bons psicólogos comportamentais já entenderam isso!). O artigo (veja aqui) questiona justamente o benefício do uso reforçadores positivos externos (ou seja, “recompensas”) em programas de promoção de saúde.

Segundo os estudos revisados pelo autor, reforçadores positivos (ou “incentivos externos”) até parecem promover maior adesão a programas de saúde em curto prazo, mas não existem evidências de que mudanças de comportamentos se sustentem a longo prazo com esses reforçadores. E pior: eles podem inclusive gerar problemas adicionais.

Um tipo de problema que pode ser criado é recompensar resultados ao invés de comportamentos. Exemplo típico: incentivar a perda de peso e não as mudanças de hábitos que estão associadas a este objetivo, reforçando a ideia de que “os fins justificam os meios” (basta assistir ao programa televisivo “The Biggest Loser”, em que os concorrentes não medem esforços e fazem de tudo para perder peso, não importando se as estratégias podem trazer inclusive riscos á saúde).

Outro exemplo: suponhamos que uma empresa, como parte de um programa de saúde institucional, resolva dar um bônus aos funcionários que consigam baixar seus níveis de colesterol sanguíneos (notem: o foco da recompensa é o resultado, e não os comportamentos que promoveriam a redução dos níveis de colesterol). Aqueles que não conseguirem alcançar o resultado esperado provavelmente ficarão frustrados e envergonhados, mesmo que estejam se engajando em hábitos saudáveis com este fim. Isto não gera saúde.

Devemos entender que comportamentos não-saudáveis (como fumar, beber em excesso, apresentar exageros alimentares frequentes ou mesmo compulsões alimentares) normalmente atuam como estratégia de enfrentamento ou evitação de problemas, e o uso de recompensas não busca entender quais são de fato os gatilhos e origens desses problemas. Ou seja: não são abordadas as causas reais desses comportamentos! Com isso, eles tendem a se repetir a longo prazo, quando a recompensa ou incentivo perde seu apelo original.

Moral da história: os verdadeiros incentivos são aqueles que vem da nossa motivação interna, que é construída a cada dia por meio do autoconhecimento.

Um comentário:

  1. Ana,adorei seu artigo. Compartilhei na minha página no facebook. Espero que não se importe. http://www.facebook.com/pages/Mulher-Interrompida-adeus-bulimia/246165925493182

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