domingo, 30 de novembro de 2014

Apenas um corpo...


Dia desses numa roda de amigos, ouço um papo trivial:

“Nossa, quanto tempo! Como você está?”
“Ótima, e você?”
“Também!”
“Esses dias lembrei mesmo de você, vi aquele seu amigo, o Fulano...”
“Qual Fulano? Aquele ‘saradão’?”

Essa conversa me fez pensar por alguns instantes. Provavelmente, esta última pessoa conhecia dois Fulanos, e na tentativa de identificar sobre qual deles estava se falando, ela fez uma referência explícita ao seu corpo. E não se referiu, por exemplo, à cor dos olhos ou à altura de Fulano, que são características naturais e imutáveis; não se referiu também a seus gostos pessoais ou seus traços de personalidade (“qual Fulano, aquele advogado?” ou “qual Fulano, aquele engraçado/mal humorado?”).

Foi aí que eu percebi que talvez Fulano tenha se tornado um molde. Fulano agora será lembrado por aquilo que ele aparenta ser: apenas um corpo.

Não quero aqui moralizar quem valoriza o cuidado estético do corpo; afinal, como o próprio título do blog diz, o corpo é de cada um, cada um tem sua verdade sobre o que é melhor e mais desejado para si próprio. Mas eu particularmente não gostaria de ser lembrada como “a Carol, aquela gorda/magra/sarada/peituda/sem peitos”. Isso me afastaria da essência de quem eu de fato sou, dos meus valores e, mais importante, daquilo que é mais importante em minha vida.

Amo e respeito meu corpo, ele é minha morada sagrada, é ele que me permite transitar pela minha existência. Mas acredito que amar e cuidar do corpo seja diferente de transformá-lo em um “altar de idolatria”.

Espero um dia, então, ser lembrada como “a Carol, aquela moça que valoriza a família/que gosta de comer boa comida/que faz aulas de dança/que gosta bastante de ler”.

Que é feliz.

Um comentário:

  1. Oi Carol!

    Adorei este seu post - assim como todos os outros! :D
    Eu me identifico muito com o que você escreve! E agora, em específico, eu lembrei de uma vez em que, depois de eu emagrecer quase 20 quilos de forma nada saudável, encontrei uma amiga da minha mãe em uma fila de banco e ela disse que não me reconheceu porque eu era gorda e agora estava tão "bonita de corpo"...
    Sim, minha cara, com essas palavras!... Bonita de corpo? Tipo: você pode ser um lixo de pessoa, mas se tiver um corpo bonito, tudo bem!
    Senti muita raiva na hora, tentei entender. E me esforço, juro! Mas fica difícil, sabe?
    E são comentários assim que tantas vezes me estimulam a não conseguir entrar em uma farmácia para comprar anticoncepcional sem precisar passar pela balança e ver aqueles números e eles determinarem se meu dia será feliz ou triste.
    Acho que é muito, muito, injusto!

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