Hoje resolvi escrever sobre um dos maiores mitos da Nutrição
moderna, ou melhor, um dos maiores mitos envolvendo a relação terapêutica entre
o nutricionista e o paciente.
Já cansei de ouvir de colegas de profissão e de outros
profissionais de saúde as seguintes frases:
“Ok, aceito que se pode comer de tudo um pouco... Mas
(insira seu alimento aqui) acho melhor você não liberar pra tal paciente, se
não ele vai comer demais.”
“Tem coisa que o nutricionista não pode permitir mesmo... Se
sendo proibido o paciente já come muito, que dirá se estiver liberado!”
Na minha opinião, tem muita coisa errada nesse discurso.
Em primeiro lugar, um questionamento ético: quem sou eu para
“permitir” ou “proibir” qualquer coisa? Quem sou eu para atribuir um julgamento
moral à comida? Quem sou eu para ferir o princípio da autonomia do paciente,
segundo o qual o indivíduo capacitado de deliberar sobre sua escolha deve ser
tratado com respeito pela sua capacidade de decisão; segundo o qual as pessoas
têm direito soberano de decidir sobre as questões relacionadas ao seu corpo e à
sua vida?
Em segundo lugar, uma postura pessoal: eu não quero ter esse
“poder”, essa responsabilidade perante aos meus pacientes, de decidir o que
eles devem ou não comer. Eu quero ser responsável sim por auxiliá-los a
adotarem uma postura mais positiva e saudável ao se alimentarem; eu me
comprometo a educá-los e ajudá-los a se relacionarem melhor com a comida; mas
não tenho pretensão e desejo alguns de me tornar um “policial da comida” (termo
que eu e meus colegas do Genta gostamos muito de usar, e que tomamos
emprestado do livro Intuitive Eating).
Em terceiro lugar, e mais importante: quem disse que a
proibição alimentar faz com que as pessoas comam menos?
As referências científicas existentes e a minha prática
clínica já me comprovaram que a relação é a inversa: quanto mais a comida for
proibida, mais o indivíduo vai comer! Restrição leva à compulsão!
Pode reparar: você, que já fez mil dietas ou restrições
alimentares, conseguiu de fato não comer um alimento que tinha vontade simplesmente
porque havia se proibido de comê-lo? Ou pior: porque alguém havia proibido?
Sei que a liberdade alimentar parece assustadora de início,
e entendo que internalizá-la é um processo. Inclusive já escrevi sobre isso
aqui no blog (veja aqui). Mas eu não acredito na educação para uma alimentação mais
saudável que não envolva a permissão incondicional para se comer.
Boa semana a todos!
Parabéns! Excelente, colega! Por profissionais assim que a nutrição e os pacientes clamam por mais.
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Ótimo texto. Que mais nutricionistas pensem assim.
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