Todos os nutricionistas que trabalham com transtornos
alimentares – e também aqueles que usam a abordagem defendida pela NutriçãoComportamental – têm como fato a premissa de que dietas levam à compulsão
alimentar, comer emocional e/ou comer na ausência de fome. Por “dieta” me
refiro aqui a qualquer tipo de restrição
alimentar com a finalidade de perda de peso, que não siga os sinais internos do
corpo como fome, apetite e saciedade para determinar o que e quanto comer.
Dietas forçam o indivíduo a seguir regras externas para determinar sua
escolha alimentar, que inevitavelmente levam à transgressão e à culpa em
comer. Dietas não fazem bem e não são inofensivas: dietas fazem mal.
A restrição alimentar mais óbvia é a restrição quantitativa, ou seja, a pessoa diminui a quantidade de comida que come a fim de reduzir a ingestão calórica, o que teoricamente levaria ao emagrecimento. Porém, muitos pacientes que têm uma relação ruim com a comida me dizem em algum ponto do tratamento: “Carol, eu não estou mais fazendo restrição, estou comendo todas as refeições e em quantidades adequadas... Então por que ainda estou tendo compulsão?”
“Porque você está fazendo outros tipos de restrição”, é a
minha resposta.
O segundo tipo de restrição é a qualitativa, isto
é, o indivíduo come em quantidades razoáveis mas nunca (ou quase nunca) se permite
comer os alimentos que gosta, somente aqueles que considera “corretos”. Isso
ainda faz parte da mentalidade de dieta, que dicotomiza os alimentos entre “permitidos”
e “proibidos”. Se a pessoa ainda faz dieta, ela ainda tem compulsão.
O terceiro e último tipo, que por ser mais sutil pode correr
o risco de passar batido, é o que eu chamo de restrição cognitiva. É
quando a pessoa até come o delicioso brigadeiro que tanto queria... Mas com a
sensação de que não deveria. A certeza de estar quebrando uma regra leva
automaticamente à culpa e ao pensamento de “8 ou 80”: “já que comi um
brigadeiro, já que já meti o pé na jaca, melhor comer logo 10...”
Daí a importância suprema da permissão incondicional em
comer, defendida pelo modelo do Intuitive Eating, que está explicado em
detalhes em nosso livro Nutrição Comportamental (pode ser comprado aqui). Claro, quando toco nesse assunto, os pacientes logo demonstram o medo de passar
a comer somente comidas muito gostosas e calóricas caso se permitam; e, de
fato, isso pode acontecer no início. Mas se o indivíduo resistir e não adotar a
mentalidade de dieta novamente, essa fase passa. Experimente comer sua comida predileta
todos os dias por um mês, e veja se ao final deste você ainda tem desejo de
continuar comendo a delícia escolhida com a mesma frequência e intensidade...
E então, já se permitiu hoje?
Isso é bem inesperado mesmo: hoje, comendo chocolate todos os dias (em porções recomendadas - 30g), quase mal sinto vontade de comê-lo em excesso. Quando me restringia ou via o chocolate como 'proibido', a compulsão era quase certa...
ResponderExcluirAdoro seus textos! <3