domingo, 15 de abril de 2012

Lipoaspiração abdominal não melhora resistência à insulina e fatores de risco cardiovascular em mulheres obesas

Hoje li um estudo de 2004 muito bem conduzido, que merece ser comentado: “Absence of an effect of liposuction on insulin action and risk factors for coronary heart disease” (o link está na lista aqui do blog de artigos interessantes).

O estudo avaliou o efeito da lipoaspiração abdominal de alto volume na melhora de fatores de risco cardiovascular (circunferência abdominal, pressão arterial, concentração de lipídios no plasma e marcadores sorológicos de inflamação) e na melhora da sensibilidade à insulina de mulheres obesas que apresentavam resistência à ação desse hormônio.

Simplificando: os pesquisadores submeteram 15 mulheres obesas à lipoaspiração abdominal, retirando da região um total de 10kg de gordura subcutânea (aproximadamente 20% do total de gordura corporal total), e avaliaram os fatores de risco cardiovascular e a presença de resistência à insulina antes do procedimento e depois de 12 semanas. Detalhe: a resistência à insulina foi avaliada com a técnica do clamp euglicêmico e hiperinsulinêmico, que é considerada “padrão-ouro” para esse tipo de avaliação (ou seja, fornece a mais pura e reprodutível informação sobre a ação da insulina nos diferentes tecidos).

Os resultados após 12 semanas indicaram que não houve alterações significativas na sensibilidade à insulina no fígado, músculo e tecido adiposo e em alguns fatores de risco cardiovascular (níveis sanguíneos de lipídios, proteína C-reativa, interleucina-6, fator de necrose tumoral α e adiponectina; e valor de pressão arterial). Isto é: apesar da lipoaspiração ter promovido redução de peso e de circunferência abdominal, não houve mudanças significativas no risco cardiovascular e na resistência à insulina das participantes do estudo.

Muitos profissionais de saúde podem argumentar: “oras, mas a gordura que foi retirada com a lipoaspiração é a gordura abdominal subcutânea, e não a visceral, que é considerada mais prejudicial”. Entretanto, há um contra-argumento: tanto a gordura abdominal subcutânea quanto a abdominal visceral estão associadas à resistência à insulina, como demonstram os seguintes estudos: “Subcutaneous rather than visceral adipose tissue is associated with adiponectin levels and insulin resistance in young men”, revista “Journal of Clinical Endocrinology and Metabolism”, 2009; “Abdominal subcutaneous and visceral adipose tissue and insulin resistance in the Framingham heart study”, revista “Obesity”, 2010 (links: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19755479 e http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20339361). Ou seja, era de se esperar que a retirada da gordura subcutânea por meio do procedimento cirúrgico traria benefícios (mesmo que mínimos) nos parâmetros de resistência à insulina, certo?!

Este estudo gera argumentos favoráveis à idéia de que não é o emagrecimento per seque gera benefícios metabólicos, e sim as mudanças no estilo de vida que normalmente acompanham um emagrecimento saudável (melhores hábitos alimentares, prática de atividade física). Os estudos recentes vêm mostrando cada vez mais que uma mudança de foco é necessária: indicadores de saúde podem ser melhorados por meio de mudanças no estilo de vida, independentemente da perda de peso.

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